Faltam ainda 34 meses para as eleições em Brasília, mas personalidades que já detêm mandato ou que buscam o primeiro não querem perder tempo e buscam construir uma imagem pública que as favoreça nas próximas eleições.

Por Chico Sant’Anna

Brasília só vai ter eleições em 2026, mas nem por isso a classe política relaxa. Afinal, quem não é visto, não é lembrado, diz o velho ditado. E esse é um lema que os políticos não tergiversam. Seguem à risca. Esse período de férias, recesso parlamentar, é temerário para aqueles que necessitam de visibilidade pública. E para não correr o risco, investem alto na busca de se manter em evidência.

A 1ª dama, Mayara Noronha Rocha, que curte a passagem de ano na Florida, com o governador Ibaneis Rocha, é o tema de capa da Revista Plano B.

Já na abertura do texto da publicação – que conta com dez mil exemplares impressos, 150 mil visualizações mensais na internet e compartilhamento nas redes sociais para 500 mil destinatários -, são lembradas “as especulações sobre os planos na política” da esposa de Ibaneis.

Cinco outras páginas são dedicadas a ex-secretária de Desenvolvimento Social – cada uma com uma foto dela -, que sem qualquer falta de modéstia se apresenta com a idealizadora do maior programa de segurança alimentar do Brasil. Certamente, nem ela, nem os editores da publicação ouviram falar do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, (Sedes), que concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, lançado em 1993. Somente no período da Pandemia, a Ação da Cidadania arrecadou mais de R$98 milhões, distribuiu mais de 19 milhões de quilos de alimentos e alcançou mais de 7,8 milhões de pessoas em todo o Brasil.

Certamente, não ouviram falar também do nutrólogo Josué de Castro, que presidiu a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e elaborou as bases dos programas de combate à fome. Com Geografia da fome; clássico da ciência brasileira, lançado em 1946, tirou da obscuridade o quadro trágico da fome no país. Em 51, em outro clássico, Geopolítica da Fome, demonstrou as equivocadas crenças culturais e políticas referentes à fome em nosso país. Josué de Castro. Ao falar dos êxitos dos restaurantes populares, os rorizões, a esposa de Ibaneis Rocha esquece também de mencionar que quem os criou foi Joaquim Roriz.

Fechando a entrevista, Mayara Rocha informa estar recebendo vários convites para a carreira política e que decidirá em 2024.

Em “defesa da população”

Também o deputado distrital, Robério Negreiros (PSD), resolveu investir em divulgação para se manter em evidência. O parlamentar que está em seu quarto mandato “se dedicou integralmente à defesa da população” lançou no fim de ano a revista Robério Negreiros – Balanço 2023. Em suas 24 páginas, 21 fotos do parlamentar são estampadas. O propósito é a prestação de contas, mas fica evidente o desrespeito ao artigo 37 da Constituição Federal pelo qual, a “publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”. Vale lembrar que, segundo o expediente da publicação, ela foi elaborada pela assessoria de imprensa do parlamentar que é remunerada com recursos públicos.

Nada para a Educação

Segundo a publicação investir em Educação Púbica não foi prioridade para o parlamentar, que é Líder do Governo Ibaneis na CLDF. Em 2023, a principal destinação de suas emendas parlamentares foi infraestrutura (rodovias, viadutos, etc.), que recebeu R$ 11,9 milhões. Cultura (R$3,1 milhões) e Esportes (R$ 3 milhões) aparecem em seguida. Em quarto lugar, aparece Saúde Pública (R$ 2,5 milhões). Geração de Empregos (R$ 1,5 milhão) e Turismo (1,2 milhão) fecham o gráfico divulgado pelo distrital. Detalhe destacado pela própria publicação, R$ 150 mil em emendas foram destinadas a ações de adoção responsáveis de pets, mas para escolas, nada foi citado.

A quem agradar

Faltam ainda 34 meses para as eleições em Brasília, mas quem deseja fazer seu planejamento eleitoral deve estar atento aos números mais recentes da Justiça Eleitoral. Dezembro fechou com um total de 2.206.202 eleitores. O eleitor padrão do DF é uma mulher com idade entre 35 e 59 anos de idade. Essa faixa etária é a mais expressiva, com 1,090 milhão de eleitores, sendo 590.149 mulheres. É um eleitor com formação escolar elevada, 63% possui diploma de nível superior, está cursando a faculdade ou, pelo menos, possui o ensino médio completo. Seis em cada dez eleitores são solteiros.