Por Naira Trindade, publicado originalmente no  Brasília247 
NOVO ESTÁDIO CUSTARIA R$ 360 MILHÕES A MENOS SE GOVERNADOR CUMPRISSE A PROMESSA DA CAMPANHA E REDUZISSE A LOTAÇÃO DE 70 MIL PARA 40 MIL ESPECTADORES

Negando a promessa que fez na campanha eleitoral, de reduzir a capacidade do novo estádio de Brasília de 70 mil lugares para 40 mil, caso Brasília perdesse a abertura da Copa do Mundo de 2014, o governador Agnelo Queiroz insiste, agora, em manter a obra faraônica. A obstinação, calculam especialistas, deve gerar um custo de R$ 360 milhões a mais aos cofres públicos, valor que poderia ser destinado a prioridades como saúde, educação e segurança pública.

A construção do Estádio Nacional de Brasília, o novo Mané Garrincha, está orçada em R$ 671 milhões. Esse valor não prevê a cobertura de lona – ou tenso-estrutura, nome técnico do material de alto custo que será licitado no exterior –, dos assentos das arquibancadas, do gramado e das áreas externas. Essas três licitações sequer foram abertas, mas estima-se que os custos com os três fundamentais acabamentos superem os R$ 500 milhões, elevando a conta da construção da arena para R$ 1,2 bilhão.

Uma estratégia para “enxugar os custos”, palavras usadas pelo governador Agnelo Queiroz durante a campanha eleitoral no final do ano passado, quando era apenas candidato, seria “reduzir a capacidade de espectadores”. Pensando nisso, ao assumir o governo no início do ano, o governador encampou um projeto elaborado em meados de 2008 e 2009, ainda na gestão de José Roberto Arruda, que dá a possibilidade reduzir o número de assentos antes da conclusão das obras.

Se Brasília conquistasse a tão sonhada abertura da Copa do Mundo de 2014, os brasilienses teriam um estádio com capacidade de 70 mil lugares, como determina a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Mas, se a capital do País deixasse de ser a sede inaugural, continuariam com a construção paras 40 mil assentos.

O projeto de “dupla lotação” prevê a construção de anéis de arquibancadas. “Assim, a qualquer momento desse período inicial, o GDF pode decidir por reduzir ao número de assentos sem nenhum inconveniente de”, explica o professor de engenharia civil da Universidade de Brasília Paulo Chaves. Ele esclarece que após entrar na segunda etapa das obras, o GDF pode começar a se preparar para reduzir a capacidade do estádio. Essa redução não é irreversível. “Se futuramente, o governo quiser aumentá-lo, há a possibilidade de continuar de onde parou e avançar até os 70 mil”, explica. “Só não pode deixá-lo, agora, com cara de inacabado para aumentá-lo depois”, completou.

Caso o governador mudasse de opinião em relação à capacidade da arena, como já aconteceu uma vez, 30% dos custos poderiam ser utilizados com outras necessidades básicas. Professor de orçamento público, economia e ciência política na Universidade de Brasília, José Matias Pereira considera inadequada a política de gestão pública de investir em estádios, que dão retorno “quase nulo” a curto, médio e longo prazo.

“Se a redução de assentos seria benéfica, imagine se o governo resolvesse apenas aperfeiçoar o antigo? Quanto a população não iria ganhar com melhorias em outras áreas?”, questiona. Para Matias, ao escolher construir um estádio, o governo renuncia o fortalecimento do sistema de saúde, “que corre risco de um futuro estrangulamento por falta de investimentos”. “Fazendo essa opção, a Copa vai passar e o estádio vai ficar sem utilização, se resumindo a shows alguns dias ao ano.”

Recursos

Os investimentos para o novo Mané Garrincha deveriam ser custeados pela venda de um lote único na Quadra 901 Norte – avaliado entre R$ 700 milhões e R$ 900 milhões – para construção de um complexo hoteleiro e comercial. Esse era o plano do ex-governador José Roberto Arruda, também encampado pelo petista.

A Terracap chegou a elaborar três projetos que previam 11 ou 14 torres de 15 a 18 andares no Setor de Grandes Áreas Norte, onde se pode construir apenas prédios institucionais de três andares. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional vetou a proposta, alegando que ela coloca em risco o tombamento de Brasília. Assim, a única das 12 cidades-sedes a rejeitar o financiamento de R$ 400 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para a construção do estádio – valor que seria pago em 180 meses – terá que mexer no caixa da Terracap para quitar a dívida.

O Brasília247 tenta falar com o chefe de gabinete do governador e chefe do Comitê Organizador Brasília 2014, Cláudio Monteiro, desde as 11h da manhã de quarta-feira (23), quando os assessores pediram para enviar a solicitação de entrevista por e-mail. Desde então, todos os dias o Brasília247 liga na assessoria da Secretaria de Comunicação para conseguir a entrevista, sem sucesso.