Qual a cor da política externa brasileira? Pergunta embaixador sírio.
Fotos e texto por Chico Sant’Anna.
“Qual é a posição da Política Externa Brasileira em relação à Síria? Não consigo entender.”
Assim pensa o embaixador da Síria no Brasil, Ghassan Nseir. O diplomata, que é católico, diz que tem contatado as autoridades brasileiras, inclusive para apresentar oportunidade às empresas nacionais para atuarem na recuperação de seu país, mas que não teve retorno do governo. Politicamente, esperava ele por um papel mais ativo e que o Brasil adotasse as mesmas posições políticas dos países membros do BRICS, formado pela Rússia, Índica, China e África do Sul, além do Brasil.
Esperando nesse momento que as relações bilaterais fossem “mais calorosas”, Ghassan Nseir conta que há hoje no país cerca de três milhões de sírios e, se contabilizados os que migraram desde o final do século XIX e seus descendentes, essa comunidade montaria a 17 milhões.
“Nós consideramos o Brasil um país amigo. Há espaço para a engenharia brasileira e nós desejamos que os empresários visitem a Síria. Quem chega primeiro, tem as melhores oportunidades. Quem chega depois, não consegue nada. Incentivamos isso, mas não vemos retorno do lado brasileiro. Não há reação. Não há demonstração de interesse. Não consigo ver as cores da política externa brasileira”.
Trump
A Síria obteve uma importante vitória com a reconquista de Aleppo, a capital econômica daquela nação. O feito, que contou com a ajuda do Irã e da Rússia, facilitou a assinatura de uma trégua que, se tudo correr bem, durará um ano.
Além das duas nações parceiras, assinaram o tratado a Turquia e representantes dos grupos armados envolvidos na guerra. Turquia e Arábia Saudita, que não é signatária do acordo, são vistas pela Síria como apoiadoras diretas do Estado Islâmico – que na visão síria é uma criação dos Estados Unidos – e da Frente Al-Nusra.
Objetivo e direto, Ghassan Nseir afirma que seu país nunca espera nada das administrações norte-americanas e que não será diferente com o novo presidente Donald Trump. “Se ele quiser combater o Estado Islâmico, que seja bem-vindo.”
Na prática, a preocupação síria é maior com a vizinha Turquia. Por lá é que tem entrado armas e guerrilheiros. Além disso, o governo de Erdogan estaria saqueando as fábricas existentes nas regiões que foram dominadas pelos terroristas.
“A paz na região depende do bom comportamento da Turquia, não deixando passar pelas fronteiras armas e guerrilheiros. Mas a Turquia quer recriar o Império Otomano”.
O desafio sírio agora é a reconstrução do país. Ainda há focos importantes de guerra e áreas ocupadas pelas forças terroristas. O país foi alvo de destruição sem proporções. Ainda não há estimativas de custos, mas para Ghassan Nseir, “a pior parte não é a reconstrução com pedras e cimento, a parte mais difícil é a reconstrução do ser humano abalado.”
Aqui, você confere a íntegra da entrevista com embaixador da Síria, Ghassan Nseir, ao programa Contracorrente, da TV Comunitária de Brasília.
Compartilho com louvor a posição do Embaixador Ghassam … Parabéns pela visão objetiva e racional … O povo sírio é positivista e otimista além de ser um anfitrião nato e sempre recebeu de braços abertos à todos … Eu sou prova viva … Nesse momento de virada merece todo o apoio e principalmente do Brasil e dos Brasileiros que são um povo generoso e mundialmente conhecido e admirado ….
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Concordo com o colega Stepan. Parabéns pela matéria. Triste ver a falta de interesse do Brasil. Estou tentando com muita garra fazer um trabalho para adoção de crianças da Síria, onde várias familias obtiveram interesse profundo nesse assunto. Um tempo atrás, e não sei atualmente, o Brasil se tornou o principal destino de refugiados sírios na América Latina. Enquanto a nova política dos EUA, para essa migração cria o risco de pessoas serem devolvidas, sem avaliações individuais apropriadas e procedimentos de asilo, para locais em que elas correm o risco de serem alvos de torturas e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, em direta contravenção às leis humanitárias internacionais e de direitos humanos, que defendem o princípio da não devolução. Complicado ou não, certa ou não do que falo, devemos ser mais humamos. Fesculpa fugir um pouco do tema, mas estou aproveitando a oportunidade de quem tiver interesse nisso, por favor entre em contato. vivianedonasol@gmail.com
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