Passe-livre dos idosos:
Cancelamento dos cartões de gratuidade nos ônibus coletivos do DF causa transtornos a usuários da 3ª idade
Por Valdecy Rodrigues, publicado originalmente no Brasília Capital
As pessoas com mais de 65 anos que usufruem do transporte coletivo gratuito no Distrito Federal estão tendo enorme desconforto depois que o governo cancelou os cartões deles, no início do mês passado. Como não podem passar na roleta, restam apenas quatro bancos na parte dianteira do ônibus. Os poucos lugares disponíveis gera superlotação em volta do motorista.
Sem os cartões emitidos pelo DFTrans, fica valendo as carteiras de identidade para garantia de ocupação do pouco espaço que sobrou. As disputas são inevitáveis. “Quase todo dia, vemos briga. Uns querem convencer os outros que ‘são mais velhos’. E gente de idade não tem muita paciência”, relata o motorista Paulo Célio Ribeiro, com dez anos de profissão, atualmente numa linha que liga Plano Piloto ao Paranoá.
Raridade – Hussein Ibrahim, 72 anos, não tem paciência para a concorrência. Quinta-feira (16), aconteceu do jeito que ele descreveu. Pagou sua passagem e foi sentar-se, normalmente, na Rodoviária do Plano, com destino ao Paranoá. “Não aguento ficar em pé. Sempre tem mais gente do que banco. Há velhos que sentam no chão do ônibus”, narrou.
Olga Maria Alves, 72 anos, descreveu situação semelhante, também na Rodoviária do Plano, à espera da condução para Planaltina. “Vai apertado, mais vai. Antes era melhor porque a gente passava para trás”, lembrou.
Vicente Aragão Muniz, 75 anos, segue o mesmo roteiro entre Taguatinga, Plano e Paranoá. “Vejo muitos idosos em pé todos os dias”, dissse.
Constatação – O que os entrevistados contaram foi constatado pelo semanário Brasília Capital durante embarque de idosos para várias localidades do DF, na quinta-feira. A aposentada Waldemira de Oliveira dos Santos, 79 anos, com dor na coluna, deixou de embarcar porque as quatro poltronas já estavam ocupadas. Moradora em condomínio de Sobradinho, ela preferiu esperar o próximo horário.
O desconforto é maior ainda porque as quatro poltronas são destinadas também a grávidas, pais com crianças de colo, deficientes e obesos. O GDF informou que o cancelamento foi por causa de irregularidades. Havia pessoas vendendo ou emprestando o cartão, que é intransferível. O DFTrans pretende fazer o recadastramento dos idosos, fornecendo novos cartões, até o final deste ano.
Modernização – O secretário de Mobilidade, Fábio Damasceno, argumentou que será necessária a modernização, quando houve o cancelamento dos cartões. Ele contou que haverá um sistema que permitirá que o usuário do benefício seja fotografado quando passar pela catraca. Então, haverá o processamento da imagem, mostrando aos controladores se quem está usando o cartão é mesmo quem foi cadastrado.
Na ocasião, a presidente da Associação dos Idosos de Taguatinga, Lourdes da Silva Severino, afirmou que a culpa não é dos beneficiados, prejudicados desde janeiro. Ele disse que o governo precisa aperfeiçoar os cartões para evitar as fraudes e que “a fiscalização tem que melhorar muito.
O argumento do governo para tentar explicar o inexplicável cancelamento do passe-livre dos idosos beira, no mínimo, a argumentos de canalhices. Não é possível que se possa ser tão incompetente quanto parece. Está mais para o jogo sujo de forçar a redução dos passes-livres de idosos. Modernizar assim? Quem faz desse jeito será incapaz de modernizar o mais simples sistema.
O pior é que até agora não tive conhecimento de qualquer movimentação do Ministério Público do DF ou da Defensoria Pública do DF. Nem vi distritais batendo neste absurdo cometido contra os idosos.
E o GDF sorrindo da cara dos nosso idosos, dos nossos estudantes, do povo, com argumentos os mais chifrins para “explicar” as maldades (evito aqui usar outra palavra que seria mais adequando, mas um pouco vulgar).
CurtirCurtir