Por Adriana Bernardes do Correioweb

Um ano e quatro meses após o início da maior crise política do Distrito
Federal, desencadeada pela Operação Caixa de Pandora, nenhum dos citados
no Inquérito nº 650, que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ),
foi denunciado. Há pouco mais de 15 dias, o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, responsabilizou a Polícia Federal pela demora
no desfecho do caso. ?Tivemos realmente uma série de dificuldades com a
Polícia Federal, como atrasos de perícias. Ainda há uma série de
pendências, mas a gente espera conseguir resolver tudo e ter realmente
condições de apresentar a nossa conclusão?, afirmou Gurgel, em 16 de
fevereiro. A PF, por sua vez, assegura que todas as diligências
requisitadas pelo Ministério Público foram concluídas e aguarda novas
demandas dos procuradores responsáveis pelo caso.

Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante
ressalta que a demora na investigação e punição dos culpados ?é o
fermento da corrupção?. ?Embora saibamos que o tempo da Justiça não é o
da imprensa nem o da sociedade de forma geral, que querem apuração mais
rápida, é necessário que apuração seja mais rápida sob pena de tornar
inócuo qualquer tipo de punição?, disse, destacando, porém, a
necessidade de se respeitar os prazos para defesa.

Em 27de novembro de 2009, o Brasil conheceu um dos esquemas de
arrecadação e distribuição de propina mais bem documentados do país. A
ação, segundo a PF e o Ministério Público, seria chefiada pelo
ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) e envolveria secretários
de governo e distritais, que recebiam propina para votar projetos de
interesse do Executivo. O principal delator é o ex-secretário de
Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, o mesmo que gravou a
deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) recebendo um pacote de dinheiro
em 2006. O vídeo só foi divulgado na última semana.

A coordenadora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE),
Jovita Rosa, critica a demora do MP em concluir as investigações dos
citados na operação Caixa de Pandora. ?É com pesar que a gente vê a
atuação do Ministério Público, na condição de protetor da lei. Sentimos
falta de uma atitude mais concreta, de mais rapidez?, reclama. ?Queremos
uma célere apuração não só em relação a ela (Jaqueline), mas com todos
os envolvidos.?

Pagamentos à base
As investigações indicam que o governo tinha uma despesa mensal de R$
600 mil com pagamentos à base aliada. De acordo com relatório da PF, em
situações especiais, a quantia era mais alta. Para votar a favor do
Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), por exemplo, alguns
deputados teriam recebido R$ 420 mil. Em um capítulo especial, são
mencionados nomes de 10 distritais. Durval entregou 23 vídeos à polícia.
Em muitas gravações, há cenas em que o ex-secretário de Relações
Institucionais aparece repassando maços de dinheiro a políticos do
Distrito Federal.

Ainda em novembro de 2009, os parlamentares Eurides Brito (PMDB), Júnior
Brunelli (então no PSC) e Leonardo Prudente (então no DEM) aparecerem,
em separado, recebendo dinheiro de origem suspeita das mãos do delator
do esquema. Eurides pôs o dinheiro na bolsa. Prudente, por sua vez,
guardou as notas no paletó e até nas meias. Ele e Brunelli também
ficaram famosos pela aparição em outro vídeo, em que fazem uma oração de
agradecimento pela vida de Durval. Brunelli e Prudente renunciaram ao
mandato para fugir da cassação. Eurides enfrentou o processo até o fim e
foi cassada em junho do ano passado.