Por André Giusti
A recente reforma que o Governo do Distrito Federal fez no sistema de ônibus, trocando as empresas e colocando veículos novos, conseguiu piorar algo que, no sistema, funcionava razoavelmente bem. Falo das zebrinhas do Plano Piloto, pequenos ônibus que rodam apenas em Brasília, e não no restante do DF.
Eram velhas, chacoalhavam, faziam mais barulho que liquidificador com defeito e, dependendo do buraco em que passavam, a impressão é que deixariam pedaços pelo caminho. Mas faziam, até a reforma, o principal: passavam nos horários.
Agora, inegavelmente, os ônibus são melhores. Novos, não fazem barulho e são equipados com alguns dispositivos técnicos que fazem vista ao passageiro. Perderam a pintura que lhes deu o apelido, embora permaneçam sendo chamadas pelo diminutivo de mais de três décadas.
Mas com as latas velhas substituídas foram-se os horários certos.
Semana passada esperei mais de 40 minutos para voltar para casa e há dois dias chego atrasado ao trabalho. Hoje, perguntei ao motorista sobre o antigo horário e a que horas passava o veículo que antecedia aquele. Totalmente desinformado, apesar de educado, disse-me que nem eles estavam entendendo nada, e continuou dirigindo.
No Uruguai, país da moda, pelo que li, os ônibus são antigos, mas bem conservados e fazem o que realmente importa: passar no horário. Aqui no Brasil, fico pensando que o Estado tem um talento peculiar de deixar como está o que é ruim, piorar o mediano e não repetir o que dá certo.
Chico, outro dia levei exatamente 40 min no ponto para pegar uma zebrinha da comercial do Sudoeste até o Setor de Autarquias Sul (trajeto que levou uns 20 min). Comigo, que fiz o trajeto de ônibus por opção para não entulhar mais as ruas com carro, iam pessoas que acabavam de sair do trabalho no comércio e em residências da região. Como já esperei muito na comercial, tinha levado um livro, mas a maioria das pessoas ficou o tempo todo olhando para o nada. É absolutamente inacreditável que os anos passem e esse absoluto desrespeito permaneça. Permaneça a ponto de as pessoas já estarem anestesiadas. Colegas passam por verdadeiras aventuras para voltar para casa em regiões mais distantes ou já em Goiás e acham tudo muito normal.
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