Bloco Q da Esplanada dos Ministérios foi rebatizado.
Bloco Q da Esplanada dos Ministérios foi rebatizado. Agora é Edifício Defensores da Pátria.

Raul Jungmann resolve batizar sede do ministério na Esplanada dos Ministérios.

 

Para comemorar os 17 anos de criação do Ministério da Defesa, o ministro comandante da pasta, Raul Jungmann – PPS-PE, feriu profundamente o projeto de Lúcio Costa do Plano Piloto de Brasília, em especial o da Esplanada dos Ministérios.

Como é sabido por qualquer pessoa que tem uma mínima intimidade com Brasília, os edifícios sedes dos ministérios localizados na Esplanda dos Ministérios são identificados como “blocos” e cada bloco recebe uma letra de identificação, assim como acontece nas superquadras. A partir de agora, a sede do Ministério que era identificada como sendo o bloco Q, passa a ser chamada “Edifício Defensores da Pátria”

Com a expressão “Defensores da Pátria”, homenageamos aqueles que lutaram pela unidade nacional”, justificou Jungmann, que nem se preocupou em ouvir o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a quem cabe preservar o Plano Piloto de Brasília, patrimônio histórico mundial da Unesco.

Pela proposta de Lúcio Costa, apenas os Ministérios das Relações Exteriores – denominado Palácio dos Arcos, embora muitos chamem de de Itamaraty em função da sede carioca do ministério -, e o da Justiça – Palácio da Justiça, teriam denominações. Mesmo porque suas arquiteturas se diferenciam dos demais ministérios na Esplanada.

Para Lúcio Costa, conforme ficou consignado no livro Brasília 57-85, do plano-piloto ao Plano Piloto, os prédios sedes dos ministérios nem deveriam ter em suas empenas aqueles grandes letreiros dourados. Apenas a letra identificado do bloco. A identificação de cada pasta dar-se-ia como acontece no Itamaraty e no Ministério da Justiça, com placas de sinalização tradicionais da capital.

Placas Itamaraty e DefesaA placa que identifica e batiza com novo nome o edifício sede do Ministério da Defesa também foge ao padrão de sinalização da Capital Federal. O modelo de sinalização de Brasília foi estabelecido em 1976 após um estudo técnico realizado por uma equipe coordenada pelo arquiteto Danilo Barbosa. A funcionalidade e estética da sinalização candanga foram reconhecidas, em 2015, pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Uma réplica do totem igual ao instalado na entrequadra comercial 107/ 108 Sul faz hoje parte do acervo do museu. E foi este padrão, que em 1985, Lúcio Costa estabeleceu que deveria ser utilizado em Brasília e citou especificamente os ministérios da Esplanada, conforme ele mesmo atesta na publicação acima citada e que foi premiada

Jungmann não só ignora o que foi proposto e tombado, com traz para Brasília uma prática comum nos demais estados, mas muito repudiada na Capital Federal, qual seja a de se atribuir nomes a logradouros e edifícios. Lúcio Costa teve a sabedoria de evitar esta velha e prosaica prática na nova Capital Federal. Se a moda pega, vai ter político batizando a Avenida W.3, os eixinhos L e W, a Catedral, o palácio do STF.

E vale lembrar, conforme registrado na obra acima citada, qualquer iniciativa que altere o que foi projetado para o Plano Piloto depende de lei federal, conforme estabelece o artigo 38 da lei 3.751, de 13 de abril de 1960. O novo ministro não deve conhecer a lei.

A arquiteta Vera Ramos, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico – DF, lembra que Brasília é uma realização coletiva do povo brasileiro.

Seu urbanismo traduz uma referência ética: a predominância das áreas públicas livres sobre os espaços edificados representa o princípio da supremacia do interesse público sobre os interesses individuais. Nesse contexto, homenagens individuais não foram previstas. A nomenclatura do endereçamento e as referências são determinadas pela posição relativa no conjunto – norte, sul, leste e oeste. A função e o lugar dos edifícios, dos logradouros públicos e dos setores no conjunto é que determinam os seus nomes – Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios, igrejas, escolas, palácios, etc, reforçando seu sentido coletivo – diz ela.

Agora é saber como irão se comportar as instituições que tem por missão zelar pela preservação do Plano Piloto de Lúcio Costa. Irão elas apontar seus canhões para o Ministério da Defesa?