brasilia-mariaPor Chico Sant’Anna

 

Brasília Maria nasceu em 21 de abril de 1960. Brasília – DF também

Brasília – DF representava a nova utopia brasileira. A Capital da Esperança. Brasília Maria, ao ser batizada assim, personificou a imagem de um novo futuro para toda uma geração: a verdadeira geração Brasília.

Aos 56 anos, a filha de Brasília – DF, Brasília Maria, morreu dia 10. Morreu pobre, sem condições mesmo de custear o tratamento de sua própria saúde. Morava numa casa humilde, marcada pela impossibilidade de investir em mais conforto e qualidade de vida. Brasília Maria morreu porque a nova utopia brasileira ainda não aconteceu. Brasília Maria morreu porque Brasília-DF, aos 56 anos, está moribunda, sem capacidade de reação, quase que com falência geral dos órgãos. Dos órgãos públicos que deveriam estar funcionando pelo bem estar da população.

Leia também:

Brasília Maria morreu como centenas de brasilienses morrem rotineiramente. Brasília-DF não lhe assegurou internação em UTI. E Brasília Maria deixou Brasília-DF prematuramente em decorrência de parada cardiorrespiratória. A Saúde de Brasília-DF está à beira da morte, morte que Brasília Maria já foi vítima.

Brasília-DF vive os piores de seus dias. A Saúde é caso, literalmente, de polícia. A Educação não passou de ano e o boletim emitido pelo Ministério da Educação deu nota vermelha ao ensino, público e privado, da Capital Federal. Nessa realidade de Educação claudicante, Brasília-DF deixa crescer abertamente o trabalho infantil.

O meio-ambiente, assim como fez Brasília Maria, pede socorro. Mas ninguém escuta. Não há coleta seletiva de lixo. Dois, em cada três parques ambientais de Brasília-DF, só existem no papel, não estão constituídos. Faz-se necessária uma ação contundente contra os grileiros que continuam, sem qualquer vergonha, fracionando e comercializando irregularmente pedaços de Brasília-DF. A crise hídrica já é uma realidade.

Publicado originalmente na coluna Brasília, por Chico Sant'Anna, no semanário Brasília Capital;
Publicado originalmente na coluna Brasília, por Chico Sant’Anna, no semanário Brasília Capital.

Na Segurança Pública, polícias Civil e Militar, em vez de prender os vilões e garantir a cidade, preferem brigar entre si. Aumentam as estatísticas de criminalidade, mas Brasília-DF não consegue montar um plano de ação policial conjunta para garantir a segurança de seus filhos. Falta planejamento. Falta comando.

Na mobilidade urbana, o sofrimento não é diferente. Há mais de uma década Brasília-DF não ganha um centímetro de metrô. VLT? Esse nem falar. Resultado, ônibus e vias superlotadas e as lotações voltando descaradamente.

Brasília-DF não tem dinheiro para recuperar seus espaços culturais públicos, mas consegue verba para apoiar duvidosos projetos culturais privados à beira do Lago. Ou mesmo alugar o Mané Garrincha ao custo de R$ 0,30 o assento.

A falta de gestões competentes deixou que Brasília Maria morresse. Morreu sem amparo da Brasília-DF.

Quantas Brasília Maria precisarão morrer ainda para que essa realidade mude? Para que acabe a roubalheira e os desmandos no interior de nossa classe política? Para que tenhamos gestores mais eficientes e menos demagogos.

Quantas Brasília Maria precisarão morrer para que a profecia de Dom Bosco se concretize e Brasília-DF seja efetivamente o “berço de uma nova civilização de impressionar o mundo” e não o exemplo de uma civilização que deixa morrer seus frutos por falta de ação e incapacidade de gestão pública?