Parlamentar do Novo, desconsidera a grave crise sanitária por que passa o Distrito Federal e mesmo as milhares de pessoas que estão infectadas ou até já morreram e faz convite aberto nas redes sociais para um convescote.

Por Chico Sant’Anna

Às 19 horas do dia 30 de julho de 2020, o Distrito Federal registrava 102.342 casos confirmados de COVID-19, sendo que esse cenário resultava de 1.616 casos novos casos em relação ao dia anterior. O Boletim da Secretária de Saúde acusava 1.419 mortes. Para esse mesmo horário, a deputada Julia Lucy fazia um convite aberto a população para um Happy Hour, em um restaurante da CLS 406. “Venha confraternizar e trocar ideia com os filiados e simpatizantes do Partido Novo. Todo dia 30 é dia do Novo”, dizia a propaganda em suas redes sociais.

Brasília tem se indignado diante da realização de festas e baladas regadas a bebidas, especialmente algumas realizadas em lanchas no Lago Paranoá. Mesmo assim, a parlamentar de primeiro mandato demonstra total falta de consideração com as milhares de famílias que estão passando momentos de dor, de desesperança e convida os amigos para um convescote. Nem mesmo para com seus quatro colegas distritais que foram infectados pelo coronavírus [Daniel Donizet (PSDB), Martins Machado e Delmasso, ambos do Republicanos e Iolando (PSC)] ela demonstrou um pingo de respeito.

Em resposta a essa coluna, a assessoria da deputada disse não ver mal na iniciativa de realizar esse convescote em plena Pandemia. “A deputada considera que os bares e restaurantes já foram abertos, seguindo os protocolos sanitários estabelecidos pelas autoridades, assim como os participantes também deverão seguir -” informou o gabinete.

Insensibilidade social

Os integrantes do Partido Novo tem demonstrado, tanto na esfera local quanto na federal, um desprezo pelo lado social. Todos se lembram, no início da Pandemia, que o ex-candidato do Novo ao GDF, Alexandre Guerra, então CEO do grupo Giraffas, aconselhou os empresários seus amigos a demitirem seus empregados. “Eu tenho boletos a pagar”, disse ele num vídeo. Mais recentemente, a própria Julia Lucy foi a única dos 24 deputados distritais a votar contra uma lei que assegurava maior proteção aos motoristas de aplicativos, até então vítimas recorrentes de assaltos e até homicídios. Há poucos dias, durante a votação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação de Base, a bancada do Novo apresentou destaque que visava remover a vinculação de parcela do Fundeb ao pagamento de profissionais de educação. Se aprovada essa medida, colocaria em risco a garantia do piso salarial nacional pago aos professores, hoje estipulado em R$ 2.886,15, para a jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Privilegiar o lado do capital, das empresas, pode até ser o princípio ideológico do Partido Novo, mas promover atividades sociais em bares e restaurantes – contrariando recomendações da Organização Mundial de Saúde que não aconselha atividades desse tipo – é perder a racionalidade. Iniciativas desse porte são um mau exemplo, pois incentivará happy hours de outros.

Um parlamentar, pela visibilidade que possui, deveria prezar pelo bom exemplo social, Julia Lucy parece seguir a cartilha de Bolsonaro, que realizou vários passeios pela Ceilândia e outras cidades do DF. Indicadores de monitoramento de reclusão social revelam que, após as saidinhas de Bolsonaro, o respeito à reclusão domiciliar ficou bem menor.  Happy hour agora pode se transformar daqui a 15 ou 30 dias em uma sad hour (hora triste) se os convidados de Lucy adoecerem ou mesmo vierem a óbito.