
A decisão do Novo, segundo a nota de Julia Lucy, teve por base três pontos: insubordinação, não prestação de contas do mandato, notadamente das emendas orçamentárias e contratar assessores em maior quantidade do que o permitido. Ela rebate todas as acusações.
Por Chico Sant’Anna
A sete meses das eleições, uma reviravolta no Partido Novo exclui a deputada distrital, Julia Lucy, eleita na onda da chamada nova política em 2018, da nominata que o partido apresentará nas eleições desse ano. A deputada que exerce o seu primeiro mandato, notabilizado por muitas propostas e ações polêmicas, foi praticamente excluída da vida política da legenda. Ela planejava um segundo mandato na CLDF. Na prática, conforme nota distribuída pela sua assessoria, ela recebeu a informação “da inviabilidade da candidatura à reeleição pelo Partido Novo”. A decisão foi adotada por uma comissão interna, composta por representantes da direção local e nacional do Novo. Sem legenda, a distrital afirmou a esta coluna que irá buscar outro partido para dar continuidade a sua ação política.
A decisão do Novo, segundo a nota de Julia Lucy, teve por base três pontos: insubordinação, não prestação de contas do mandato, notadamente das emendas orçamentárias, e contratar assessores em maior quantidade do que o permitido. A comissão avaliou haver um “total abusivo de assessores parlamentares”, que a parlamentar praticou “atos de desrespeito à instituição, com constantes episódios de insubordinação ao partido Novo” e que em relação à prestaçaõ de contas das emendas parlamentares, essas foram “incansavelmente solicitadas, dificultando qualquer possibilidade de auditoria e compliance da destinação de recursos públicos”.
Ela rebate todas as acusações. Confira abaixo sua resposta:
“1) Alegação de ‘atos de desrespeito à instituição, com constantes episódios de insubordinação ao Partido’: esclareço que sempre nutri relacionamento de respeito com os dirigentes partidários, fortalecendo a marca, por meio da busca de novos filiados, de novos candidatos, defendendo sempre a instituição quando atacada. Em momento algum contestei publicamente qualquer decisão partidária. Sempre apresentei meu ponto de vista como filiada e mandatária dentro dos espaços internos, não gerando, portanto, qualquer tipo de constrangimento no time. Saliento: não houve qualquer processo disciplinar para apurar possível conduta de indisciplina. Destaco que o único ato do partido que não contou com o meu apoio expresso foi o do pedido de abertura do processo de impeachment do Presidente da República.
2) Sobre a suposta ‘total ausência de prestação de contas do mandato’: saliento que as informações solicitadas foram prestadas e qualquer complemento poderia ter sido requerido formalmente, o que nunca ocorreu. Sobre a acusação de não dispor de dados relativos ao encaminhamento de emendas parlamentares, destaco que não há qualquer documento interno que tenha exigido. No entanto, a prestação de contas sobre as emendas consta no meu site, nas demais redes sociais e no portal da transparência, o que permite, ao contrário do alegado, a possibilidade de total auditoria e compliance.
3) Sobre a alegação de ‘composição anormal e exacerbada da estrutura de gabinete’: informo que a questão já fora tratada duas vezes no âmbito da comissão de ética do partido, sendo que a última decisão do órgão, em janeiro de 2022, concluiu que ‘a denunciada estaria com o quadro de assessores que atende o determinado pelo partido, quanto ao número máximo de assessores, qual seja, 50% do total’. Esse foi o embasamento para indeferir a denúncia de que essa parlamentar estava excedendo o número de assessores permitidos. Portanto, toda a estrutura do gabinete está em conformidade com as normas do partido.”
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Julia Lucy se diz surpresa com as acusações do uso de “subterfúgios jurídicos para se enquadrar no termo de compromisso”, porquanto o próprio partido esclarece que as ‘contratações estão juridicamente embasadas’.
“Por outro lado, definir o gabinete mais econômico da CLDF como descumpridor dos princípios da eficiência e da economicidade é, no mínimo, injusto e desconectado da realidade dos fatos. Nosso mandato, até o presente momento, já poupou aos cofres públicos cerca de R$ 7 milhões.”
Pessoas próximas ao mandato de Julia Lucy analisam a decisão de excluí-la do rol de candidatos em 2022 se deve a divergências com o grupo de João Amoedo, que presidiu nacionalmente o partido até 2020. E agora ela estaria sendo penalizada por se posicionar contra o antigo dirigente. “É uma decisão politica relacionada a postura que a deputada adotava internamente” – comenta um membro do Novo-DF.
A distrital disse a coluna que passado o carnaval vai analisar o cenário político e ver em qual partido ela pretende dar continuidade a sua ação política. Antes mesmo desse episódio, já havia um assédio de outros partidos, dentre eles o Podemos, de Reguffe; o União Brasil, do coronel Alberto Fraga, e o Republicanos, do deputadao Federal, Julio Cesar Ribeiro .
O Novo-DF que ensaiava uma recuperação no cenário político local, pode ter dado um tiro no pé, ao excluir o único nome que conseguiu eleger. Embora os votos para deputado distrital nao contem para a cláusula de barreira, Julia Lucy teria condições de alavancar candidaturas federais.
Mandato polêmico
O mandato de Julia Lucy tem sido dedicado ao liberalismo econômico ao extremo e a total desregulamentação social. Por isso mesmo, foi marcado por iniciativas bastante polêmicas. Antes mesmo da Pandemia, quando era grande o número de assaltos e assassinatos de motoristas de aplicativos, ela foi a única parlamentar a votar contra um pacote de proteção aos profissionais, dentre eles a obrigação do botâo do pânico. Não satisfeita em ter sido o voto isolado, mobilizou dirigentes das empresas de aplicativos e, juntos, convenceram Ibaneis Rocha a vetar o projeto.
Na Pandemia, por diferentes ocasiões, em meio ao isolamento social, promoveu happy-hours públicos, convocando seus apoiadores a se confraternizarem com ela em bares da cidade. Se posicionou contra o passaporte da vacina e a favor do livre direito de exercício da atividade esportiva e da segurança jurídica dos CACs – Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores. Recentemente, uma emenda de sua autoria a Lei de Uso e Ocupação do Solo – Luos deixou de cabelo em pé moradores do Lago Sul, Norte e Park Way. Ela autoriza a atividade de somatoconservação – mumificação de cadáveres – em todo o DF, sem restringir nenhuma Região Administrativa. Os conselhos e associações comuntárias desses três bairros entendem que com essa emenda, associada a outro artigo da Luos que autoriza atividade econômica em residências dos bairros, eles passem a ter como vizinhos casas funerárias para a preparação de defuntos e mesmo para as cerimônias de velório. Ela nega esse intuíto. Diz que quer acabar com a “máfia das funerárias” e é até apresentou outra emenda proibindo atividade econômica nas residências do Lago Sul, Norte e Park Way.