A formação de uma frente, semelhante à que levou Cristovam Buarque ao Buriti, em 1994, poderia mudar o cenário, criar uma onda pró-mudanças. Naquele ano, no segundo turno, Cristovam reuniu na Frente Popular, além do seu PT, o PCdoB, PCB, PSTU, PSB, PPS, PV, PDT e, até mesmo, o PSDB, à época liderado por Maria Abadia. A frente foi tão exitosa que elegeu também o professor Lauro Campos (PT), para o Senado.

Por Chico Sant’Anna

Os números revelados pela pesquisa Quaest/Correio Braziliense trazem para os partidos de centro-esquerda o pior dos cenários na disputa pelo Palácio do Buriti. Eles revelam a potencial ausência desses partidos no palco de um virtual segundo turno. Pelos números, o governador Ibaneis Rocha (MDB) e o ex-governador cassado, José Roberto Arruda (PL) iriam disputar a preferência final dos eleitores. A pesquisa é arrasadora também para candidatos tido de centro: Reguffe (UniãoBR), Leila do Vôlei (PDT) e Izalci Lucas (PSDB). Mas o mais importante que a pesquisa revela é há um caminho que os opositores de Ibaneis e Arruda trilhem, se não desejarem ficar assistindo da arquibancada o segundo turno: a união.

A chegada de dois candidatos de direita ao segundo turno é um fenômeno inédito na história eleitoral do Distrito Federal. Historicamente, o PT sempre polarizou com algum outro candidato. Foi assim nos embates contra Joaquim Roriz. Nas duas últimas eleições, os partidos progressistas foram representados por Rodrigo Rollemberg (PSB).

Em um dos cenários estimulados da Quaest/CB, Ibaneis (28%) e Arruda (25%) somam a maior parcela de apoio. Em seguida aparecem Reguffe (11%) e Leila (9%), Izalci (5%), Leandro Grass, do PV, (4%), Rafael Parente, PSB, (2%) e Keka do Psol (1%). Todos muito distantes dos líderes. Ainda há 15% de quem ainda não sabe em quem votar ou pretende anular o voto.

A formação de uma frente, semelhante à que levou Cristovam Buarque ao Buriti, em 1994, poderia mudar o cenário, criar uma onda pró-mudanças. Naquele ano, no segundo turno, Cristovam reuniu na Frente Popular, além do seu PT, o PCdoB, PCB, PSTU, PSB, PPS, PV, PDT e, até mesmo, o PSDB, à época liderado por Maria Abadia. A frente foi tão exitosa que elegeu também o professor Lauro Campos (PT), para o Senado. Rede e Psol ainda não existiam. Sabemos que política não é uma ciência matemática, mas num exercício, poderíamos estimar que o candidato que liderasse essa frente somaria algo perto de 21%. Se Reguffe decidisse se juntar, ai o jogo das preferências poderia se inverter, somando 32 pontos. Um resultado como esse deixaria de fora do segundo turno Ibaneis ou Arruda.

Unidade difícil

Na matemática as equações são mais fáceis de se resolver do que na política. A primeira dificuldade é fazer com que o individualismo, o sectarismo, o egoísmo partidário e, até mesmo, as divergências fiquem de lado. Um programa de governo bem elaborado pode aglutinar a todos. Há de se encontrar um denominador comum que reúna todas essas forças paralelas. É mais ou menos que o presidente Lula faz, ao chamar pra compor a mesma chapa o ex-tucano, Geraldo Alkimin. O esforço nacional de Lula visa salvaguardar a democracia e evitar uma debacle total do Brasil.

Infelizmente, não se repete no Planalto Central. O PT, que já reúne em sua federação o PV e o PCdoB, não conseguiu chegar a bom termos com o PSB. Houve até um esforço, uma tentativa no ano passado, de costurar uma candidatura unificada, tendo Leila do Vôlei à frente desses partidos. Ao que se sabe, ela rejeitou a proposta, pulou fora. Foi para o Cidadania e quando viu que as promessas que lhe foram feitas não iriam se materializar, pulou fora novamente, dessa vez para PDT.

A presença nacional belicosa de Ciro Gomes, praticamente impede que o PDT candango se some no primeiro turno a outras legendas locais, que já possuem candidatos a presidente da República. Não há motivos palpáveis que expliquem porque o PSB de Rollemberg não siga o exemplo nacional dos socialistas e se coligue com a federação PT-PV-PCdoB, há não ser, rusgas pessoais passadas. Outro partido que se somou nacionalmente à chapa Lula-Alkimin é o Psol, que nas eleições passadas obteve com a professora Fátima Sousa, praticamente 5% do eleitorado. A federação Psol-Rede, provavelmente, numa estratégia de se fortalecerem como forças políticas independentes, decidiu lançar Keka Bagno, que até agora pontua apenas 1%, segundo a Quaest.

Debacle candanga

O que se deve perguntar às lideranças progressistas candangas é se elas priorizam evitar uma debacle local. Todas elas sabem o que representam um segundo governo de Ibaneis Rocha ou de José Roberto Arruda. Ibaneis conseguiu levar ao caos à assistência social, à educação pública e conseguiu o êxito de ter seu secretário de Saúde preso na Papuda. Os descalabros de sobrepreço, de desvio de recursos, de falta de transparência – como no caso da parceria BRB-Flamengo, que pode ter resultado num rombo de R$ 63 milhões. Isso sem falar na transferência de milhões para o Piauí – onde Ibaneis possui propriedades rurais -, no mínimo estranha. Os recursos eram destinados pelo governo federal para a aquisição de máquinas, iluminação pública e arruamentos. Serviços que os brasilienses demandam diariamente.

Em relação a Arruda, quem precisar refrescar a memória pode abrir na internet os vídeos que mostram o Mensalinho do Democratas. Parlamentares enchendo as bolsas, meias e cuecas com maços de dinheiro. Isso, sem contar, com as cenas em que o próprio Arruda recebe boladas de dinheiro, que depois foram justificadas como destinadas a comprar panetones para as famílias carentes.

Denúncias de irregularidades na ampliação do metrô, na implantação do VLT, fizeram com que os brasilienses ficassem sem receber, em 2009, cerca de R$ 1,2 bilhão, valores da época, para tais obras. Brasília ficou sem a injeção desses recursos federais do PAC da Mobilidade em sua economia local e também sem as benfeitorias e benefícios que esses modais teriam rendido.

Evitar que essa realidade se repita está nas mãos dos eleitores, é claro, mas também nas mãos das lideranças políticas. Cabe a elas montar a estratégia em que a mudança seja possível. Esse raciocínio vale também para a candidatura progressista ao Senado, onde a deputada Flávia Arruda (PL), lidera com folga. Prazo para construir uma frente única ainda há. Até o dia 5 de agosto. Resta saber se os nossos arquitetos partidários terão o pragmatismo, o protagonismo e a sabedoria para construir esse novo caminho.