Jovem Carcará,fotografado por Evando, na Estaçao Águas Emendadas.
Jovem Carcará, fotografado por Evando F. Lopes, na Estaçao Ecológica Águas Emendadas.

Texto de Chico Sant’Anna, com base na WikiAves, a Enciclopédia das aves do Brasil. Fotos de Evando F. Lopes, Reginaldo Marinho e Chico Sant’Anna.

Ele ficou imortalizado na canção Carcará, composta por João do Valle e José Cândido, interpretada nos anos 1970 por Maria Bethânia. Na canção, a ave simbolizava a dura vida do sertão nordestino.

Da família das Falconidae, o Carcará (Caracara plancus), carancho, caracaraí ou gavião-de-queimada habita ampla extensão do território brasileiro, desde a Ilha do Marajó, no Pará, até o Rio Grande do Sul. É uma ave comum às Américas, vai da Argentina – onde é conhecido por carancho – até o sul dos Estados Unidos, ocupando toda uma variedade de ecossistemas, exceto as Cordilheiras dos Andes. Sua maior população se encontra no sudeste e nordeste do Brasil.

Estado de Conservação
(IUCN 3.1)

Pouco Preocupante

Foto de Evando
Carcará alçando vôo na Estação Ecológica das Águas Emendadas. Foto de Evando F.Lopes.

O nome vem do tupy: caracará equivale a onomatopeia indígena para o som emitido pela ave, que pertence a família Falconidae; e do (latim) plancus, plangos = águia. ⇒ águia que emite o som “cará”, “cará”. Para avisar os outros caracarás de seu território ou comunicação entre o casal, possui uma chamado que origina o seu nome comum, “caracará”. Nesse chamado, dobra o pescoço e mantém a cabeça sobre as costas, enquanto emite o som (algumas espécies de aves de rapina tem o mesmo habito de dobrar o pescoço para trás quando emitem som).

Veja e ouça aqui o canto do  Carcará com a dobra de pescoço

O Carcará não é taxonomicamente uma águia e sim um parente distante dos falcões. Ocorre em campos abertos, cerrados, borda de matas e inclusive centros urbanos de grandes cidades. A melodia de João do Valle e José Cândido descreve o hábito da espécie de caçar em queimadas:

Carcará, pega mata e come
Carcará não vai morrer de fome
Carcará, mais coragem do que hôme
Carcará, pega mata e come

Carcará, lá no sertão
É um bicho que avôa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião

Carcará, quando vê roça queimada
Sai voando e cantando, Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
[…]

Veja aqui a interpretação de Maria Bethânia

Carcará captado pelas lentes de Reginaldo, no Parque da Cidade,em Brasília.
Carcará captado pelas lentes de Reginaldo Marinho, no Parque da Cidade, em Brasília.

Características

Mede, em média, cerca de 56 centímetros da cabeça a cauda e 123 centímetros de envergadura, o caracará é facilmente reconhecível quando pousado, pelo fato de possuir uma espécie de solidéu preto sobre a cabeça, assim como um bico adunco e alto, que assemelha-se à lâmina de um cutelo; a face é vermelha. É recoberto de preto na parte superior e possui o peito de uma combinação de marrom claro com riscas pretas, de tipo “carijó”; patas compridas e de cor amarela; em voo, assemelha-se a um urubu, mas é reconhecível por duas manchas de cor clara na extremidade das asas.

Carcara ciscando
Alimenta-se de quase tudo o que acha, de animais vivos ou mortos até o lixo produzido pelos humanos. Foto de Reginaldo Marinho

Alimentação

Não é um predador especializado, e sim um generalista e oportunista assim como o seu parente próximo, o carrapateiro (Milvago chimachima).

Onívoro, alimenta-se de quase tudo o que acha: de animais vivos ou mortos até o lixo produzido pelos humanos, tanto nas áreas rurais quanto urbanas.

Foto Reginaldo
O carcará pode ser encontrado de forma solitária ou em bando, como nesta foto no Parque da Cidade de Brasíia, captada por Reginaldo Marinho.

Suas estratégias para obtenção de alimento são variadas: caça lagartos, cobras, sapinhos e caramujos; rouba filhotes de outras aves, até de espécies grandes como garças, colhereiros e tuiuiú (Jabiru mycteria); arranha o solo com os pés em busca de amendoim e feijão; apanha frutos de dendê; ataca filhotes recém-nascidos de cordeiros e outros animais. Também segue tratores que estão arando os campos, em busca de minhocas. É muito comum ser avistado ao longo das rodovias para alimentar-se dos animais atropelados.

Fica nas proximidades dos ninhais para comer restos de comida caídos no chão, ovos ou filhotes deixados sem a presença dos pais. Chega a reunir-se a outros caracarás para matar uma presa maior.

Foto de Chico Sant'Anna
A redução de áreas nativas tem levado o Carcará a buscar comida no lixo urbano. Foto de Chico Sant’Anna

É também uma ave comedora de carniça e é comumente visto voando ou pousado junto a urubus pacificamente, principalmente ao longo de rodovias ou nas proximidades de aterros sanitários e locais de depósito de lixo.

Com o avanço da urbanização sobre as áreas rurais, começa a assumir o hábito de vascular o lixo doméstico em busca de alimentos.

Dois hábitos pouco conhecidos são a caça de crustáceos nos manguezais (seja entrando na água para abocanhar os que estão por perto, ou percorrendo o mangue a pé, na maré baixa) e a pirataria (o fato de perseguir gaivotas e águias-pescadoras (Pandion haliaetus), forçando-as a deixar a presa cair, que apanha em voo).

Foto de Chico Sant'Anna
Nos dias quentes, o Carcará tem por hábito pousar nos galhos mais alto. Foto de Chico Sant’Anna

Hábitos e reprodução

Vive solitário, aos pares ou em grupos, beneficiando-se da conversão da floresta em áreas de pastagem, como aconteceu no leste do Pará.

Pousa em árvores ou cercas, sendo freqüentemente observado no chão, junto à queimadas e ao longo de estradas.

Passa muito tempo no chão, ajudado pelas suas longas patas adaptadas à marcha, mas é também um excelente voador e planador, costuma acompanhar as correntes de ar ascendentes. Durante a noite ou nas horas mais quentes do dia, costuma ficar pousado nos galhos mais altos, sob a copa de árvores isoladas ou nas matas ribeirinhas.

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