A implantação de duas linhas de VLT, duas linhas de trens regionais e a expansão de uma linha do BRT em Brasília sairia por aproximadamente R$ 6,88 bilhões, 34% a menos em relação aos R$ 10,4 bilhões gastos na construção dos 16 quilômetros da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016.

 

Por Chico Sant’Anna

 

Em tempos eleitorais, volta à baila o debate sobre mobilidade urbana, transporte público. Mas passa governo sai governo e as coisas, literalmente não andam. E o que é pior: desde o governo Arruda, em 2009, a má gestão administrativa dos governantes que estiveram no Buriti fez a cidade perder cerca de R$1,2 bilhão que seriam empregados na ampliação do metrô e da implantação do VLT. Na verdade, esses dois serviços, segundo as previsões iniciais, já deveriam estar em pleno funcionamento nos dias de hoje.

O Distrito Federal poderia ter hoje outro padrão de qualidade de vida, caso os projetos de mobilidade urbana tivessem sido implantados. Certamente, o título da terceira cidade da América do Sul mais engarrafada não teria sido entregue à Brasília. As pessoas ficariam menos tempo presas ao trânsito, ou enlatadas em desconfortáveis ônibus.

Um estudo acadêmico realizado pelo arquiteto e urbanista Matheus Augusto de Oliveira e Carvalho, sobre uma hipotética situação em que Brasília sediaria as Olimpíadas de 2032, demonstra no capitulo sobre mobilidade urbana, como a Capital Federal poderia ter um padrão Europeu de transporte Público.

É importante salientar que a proposta tem o transporte sobre trilhos como seu carro chefe, Abandonando as tradicionais soluções rodoviaristas. O trabalho parte do que existe de concreto atualmente e o que deveria ser feito nos próximos anos. Na combinação dessa estrutura, o segredo é a integração dos modais – tipos de transporte – permitindo que se viagem em ônibus, metrô, VLT e até trem regional com bilhetes únicos válidos para todo o dia ou para a semana inteira.

Linhas férreas

A proposta do urbanista parte do Entorno com a transformação da extinta linha da RFFSA em um Trem Regional. Essa ideia não é nova. Há muito se cogita essa adaptação entre Luziânia – GO até a antiga Rodoferroviária.

Mas ele inova ao propor que a linha se amplie até Formosa, do lado Norte do DF. Assim, dois dos principais corredores de passageiros que diariamente se deslocam para e de o Plano Piloto seriam atendidos por via férrea. Além disso, moradores de Planaltina, Sobradinho, Fercal e Condomínios seriam dotados de um metrô de superfície. O Mesmo aconteceria do lado Sul para quem mora em Santa Maria, Gama, Park Way, Núcleo Bandeirante e Guará.

Esta linha denominada no estudo de Linha Vermelha teria 142 km de extensão e a capacidade de atender a uma população próxima a um milhão de pessoas. Ao longo de todo o trajeto seriam 23 estações de passageiros em Goiás e no Distrito Federal

O projeto retoma o denominado Expresso Pequi, ligando Brasília a Goiânia e atendendo localidades como Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, Abadiânia, Alexânia e Anápolis. Um novo corredor de desenvolvimento se formaria, diminuindo a pressão sobre a Capital Federal. O trajeto integral tem a extensão de 210 km, capazes de serem percorridos por pouco mais de uma hora de duração. A população beneficiada seria da ordem de 7 milhões de habitantes. No estudo foram elencadas sete estações de passageiros, todas elas em Goiás, com exceção da Estação Rodoferroviária do DF. Há contudo a defesa de uma estação nas imediações do Setor O da Ceilândia, integrada a rede de metrô.

Metro e VLT

O Estudo reforça a necessidade da linha atual do metrô ser concluída, chegando, de um lado, até ao Setor O da Ceilândia e à Expansão de Samambaia, e, de outro até a extremidade da Asa Norte, onde seria construído um Terminal nas imediações da Ponte do Bragueto. Além disso, ele resgata a linha de VLT interligando o Aeroporto ao Terminal Norte, porém passando pela Avenida W.3 Sul e Norte. Esta obra é vista como a redenção da W.3 Sul que a cada dia fica mais sucateada.

A nova malha de transporte coletivo incluiria ainda três outras linhas de VLT. 1) Sol Nascente – Asa Sul, atravessando Taguatinga desde a Avenida Hélio Prates até a Praça do Relógio, de lá atravessaria a cidade pelo Pistão Sul, se dirigindo em seguida ao Núcleo Bandeirante, Rodoviária Interestadual e Estação Asa Sul do Metrô. 2) Praça do Relógio – Asa Norte, via Sudoeste, Esplanada dos Ministérios e Noroeste; e 3) Rodoferroviária – Vila Planalto, passando pelo Eixo Monumental. Tudo se integrando na Rodoviária do Plano Piloto, de onde sairia também uma linha especial de BRT para a UnB, via L.2 Norte.

Publicada originalmente na coluna BRASÍLIA, POR CHICO SANT’ANNA, no semanário Brasília Capital.

O estudo não traz alternativas para um setor do DF que vem crescendo em demasia, que é o Lago Sul, Jardim Botânico, São Sebastião, Paranoá e Itapuã. Mas a materialização dessas linhas, com certeza traria um desafogo tanto àqueles que se deslocam por meio de transporte coletivo, quanto de carro particular.

Valores

A implantação de toda esses modais: duas linhas de VLT, duas linhas de trens regionais e a expansão de uma linha do BRT em Brasília sairia por aproximadamente R$ 6,88 bilhões, 34% a menos em relação aos R$ 10,4 bilhões gastos na construção dos 16 quilômetros da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016.

A proposta é apontada para daqui a 14 anos. Com um investimento anual de R$ 500 milhões e o compromisso de todos os governantes com o projeto, seria possível uma Brasília, medalha de Ouro em Mobilidade Urbana.