Ao terminar sua mensagem em vídeo de 4’15” de duração, Alexandre Guerra exorta seus parceiros da iniciativa privada a não serem sensíveis nesse momento.
“Empresário tome aquelas decisões mais duras que você não tem coragem de tomar, tome as agora.”

Por Chico Sant’Anna

 

Vergonhosa e arrepiante a mensagem que o ex-candidato do Partido Novo ao GDF, Alexandre Guerra, dissemina nas redes sociais. Sem qualquer sensibilidade humana, em um momento em que o Distrito Federal registra 117 pacientes com coronavírus – com base no balanço, divulgado domingo (22/03), e 3.301 pessoas suspeitas de estarem contaminadas, ele diz que o importante é olhar para economia. “Daqui a três ou quatro meses, a pandemia de coronavírus terá passado e uma crise econômica sistêmica que virá será mais grave do que os reflexos na saúde da população” – ressalta.

É de se perguntar como estaria agindo hoje o Governo do Distrito Federal no combate ao Coronavírus, caso tivesse sido ele o eleito. Guerra se posiciona de maneira frontalmente oposta à postura que vem sendo adotada por vários dos governadores estaduais e, em especial, diversa da mensagem divulgada sobre o tema pelo ex-presidente Lula. Para Lula, o governo tem agora que cuidar do seu povo, cuidar de 210 milhões de habitantes. “Não fique preocupado com déficit fiscal, depois que salvar o povo, nós vamos ver como salvar a economia” – disse a mensagem de Lula

Já Alexandre Giraffinha, como ficou conhecido nas eleições ao Governo do Distrito Federal, em 2018, por ser um dos gestores da rede de lanchonetes Giraffas, coloca em segundo plano a importância e o reflexo das mortes e os acometidos pela doença propagada pela Pandemia do Coronavírus.

“Se você pensa que o custo dessa crise vão ser pessoas doentes, mortas, infectadas em razão desse vírus, esse não vai ser o maior custo para a população brasileira. O que não está sendo tratado é o reflexo que as medidas remediadoras vão ocasionar para as pessoas brasileiras. Qual que é o custo disso?” para mais adiante ressaltar “Eu tenho funcionários, tenho boletos tenho contas a pagar” – diz ele.

É hora de sensibilidade e solidariedade para proteger as vidas das e dos trabalhadores” Professora Fátima Sousa.

Doutora em Saúde Pública, ex-candidata do Psol ao GDF, a professora Fátima Sousa, da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília, diz não compreender como os empresários dos mais diferentes ramos da econômica, nesse contexto de crise, não saibam “quanto vale uma vida?”

“Eles só se preocupam fundamentalmente com perdas de lucros, problema de caixa, o consumo de seus produtos e serviços e queda e/ou redução dos custos de suas empresas” – salientou ela, mandando uma mensagem direta a Guerra: “Egoismo deve ser esquecido nesse momento. É hora de sensibilidade e solidariedade para proteger as vidas das e dos trabalhadores.”

“Os prejuízos advindos da paralisação de grande parte das atividades econômicas é inevitável e devem ser arcados pelo Estado e pelos segmentos mais ricos.” Julio Miragaya. Foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ex-presidente do Conselho Federal de Economia, Julio Miragaya, que concorreu pelo PT, ao GDF, salienta que em situações de pandemia, de riscos de disseminação de um vírus em escala mundial para o qual ainda não se tem medicação preventiva, o que se deve fazer, a qualquer custo, é detê-lo.

“Os prejuízos advindos da paralisação de grande parte das atividades econômicas é inevitável e devem ser arcados pelo Estado e pelos segmentos mais ricos.”

Como professor de Economia da UnB, ele sugere que medidas emergenciais devam ser adotadas tais como proibir demissões pelos próximos 90 dias; estabelecer tabelamento dos gêneros básicos; cancelar o pagamento de juros da dívida pública pelo prazo de 120 dias (o que representaria um reforço de caixa de R$ 110 bilhões no combate à doença); instituir tributação extraordinária sobre lucros financeiros e exportações; emitir novos títulos da divida pública; direcionar o recurso integralmente para gastos extraordinários com a saúde pública e criar um salário mínimo para os 40 milhões de autônomos e assalariados sem carteira.

“Tais medidas, mesmo com as restrições necessárias para conter a disseminação do vírus, permitem evitar a debacle econômica e o caos social. A recuperação viria na sequência. Mas para isso é preciso um comando político de estadista, o que não temos.”

Ao contrário de muitos empresários Brasil a fora, que estão contribuindo para o esforço geral de debelar o quanto antes a crise sanitária, Alexandre Guerra se diz preocupado mesmo é com o varejo no Brasil, e que os efeitos serão drásticos e ainda critica os profissionais do setor público.

“Funcionário tá em casa, numa boa, numa tranquilidade, curtindo o descanso forçado, o home-office. Todo mundo só fala do vírus, mas e o custo disso?”
Ao terminar sua mensagem de 4’15” de duração, Alexandre Guerra exorta seus parceiros da iniciativa privada a não serem serem sensíveis nesse momento.

“Empresário tome aquelas decisões mais duras que você não tem coragem de tomar, tome as agora.”

“A prioridade absoluta nesse momento – diz ele – é procurar conter o vírus e a disseminação da epidemia para pouparmos o máximo de vidas.” Ex-governador Rodrigo Rollemberg.

Os conselhos de Alexandre Guerra não bate, com a visão do ex-governador Rodrigo Rollemberg. “A prioridade absoluta nesse momento – diz ele – é procurar conter o vírus e a disseminação da epidemia para pouparmos o máximo de vidas. Vencida essa fase temos que nos unir para enfrentarmos a crise econômica que será brutal e exigirá de todos nós muita resiliência e sensibilidade para acudirmos prioritariamente os mais necessitados.”

“O que esse cara falou é de arrepiar: totalmente insensível à dor alheia e preocupado exclusivamente com os seus negócios” – Roberto Piscitelli, ex presidente do Conselho Regional de Economia. Foto de Geraldo Magela/Agência Senado

Também economista e professor da UnB, o ex-presidente do Conselho Regional de Economia, Roberto Piscitelli, ficou estarrecido: “O que esse cara falou é de arrepiar: totalmente insensível à dor alheia e preocupado exclusivamente com os seus negócios. E, de quebra, disse que o servidor público está numa boa. Ele conseguiu ser pior que o Bolsonaro. Tenho a impressão de que, passada a crise, ele, como o Paulo Guedes e outros, deveria ser julgado por um tribunal de exceção, como o de Nuremberg.

 

Veja aqui a íntegra do vídeo de Alexandre Guerra