
Procon aponta 660 reclamações contra a Neoenergia de janeiro a setembro. O aumento das queixas foi de 52%, quando comparado ao mesmo período de 2020, quando a empresa ainda era estatal.
Por Gabriel Pontes. Publicado originalmente no semanário Brasília Capital
A promessa do governador Ibaneis Rocha (MDB), ao privatizar a Companhia Energética de Brasília (CEB), era melhorar o serviço de distribuição de energia e reduzir o preço cobrado na tarifa. Na prática, porém, após nove meses do leilão da CEB e seis meses de operação pela empresa Neoenergia, as reclamações dos cidadãos se multiplicaram e a qualidade do serviço, agora prestado de forma privatizada, piorou.
Dados do Procon apontam que de janeiro a setembro foram registradas 660 reclamações contra a Neoenergia. Aumento de 52% em comparação ao mesmo período de 2020, quando a CEB recebeu 312 reclamações. Na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) também houve um aumento exponencial no número de reclamações. De março a julho deste ano, foram registradas 1.378 queixas. Isto representa um aumento de 58% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o registro foi de 872 e a prestação do serviço estava sob gestão da CEB Distribuição.
No topo das reclamações contra a empresa, está a falta de energia. Somente em agosto, foram oito cortes de energia programados pela concessionária que assumiu o comando da CEB em março de 2021, após vencer o leilão da Companhia realizado em 4 de dezembro de 2020 na Bolsa de Valores de São Paulo.

Falta de energia
Também são várias reclamações sobre a demora na manutenção dos equipamentos que apresentam falhas. Vale ressaltar que os desligamentos programados têm como motivo a manutenção da rede ou poda de árvores, por exemplo, quando a energia é desligada para garantir a segurança dos profissionais.
No entanto, além desses cortes são registradas inúmeras falhas de distribuição diariamente em todo o DF. Na noite de quarta-feira (22) e na manhã de quinta (23), o atendimento no Hospital de Sobradinho foi suspenso por falta de energia. A unidade passou a operar em bandeira negra e o atendimento no bloco materno infantil foi paralisado. Segundo a empresa, no entanto, o problema no Hospital de Sobradinho foi com o cliente.
“A Neoenergia, preocupada com o impacto que traria para a sociedade, empregou suas equipes para ajudar os profissionais da saúde na identificação e reparo dos problemas nas instalações internas do cliente”.
Em nota, a Neoenergia Brasília informou que reforçou os canais de atendimento à população, com implementação do atendimento via WhatsApp. Essas inovações geraram uma redução de 80% no volume de chamados abandonados, reduzindo em cinco vezes do volume de chamadas ocupadas na central de teleatendimento.
Ainda segundo a empresa, o índice da Aneel que mede as reclamações indicou uma redução de 16% nas reclamações contra a Neoenergia em 2021, na comparação com 2020.

Mau negócio
O Sindicato dos Urbanitários (Stiu-DF) argumenta, em nota, que financeiramente a privatização não foi um bom negócio:
“A dívida da CEB, no período da privatização, girava em torno de R$ 806 milhões. Além de estar sendo amortizada sem atrasos e com média de juros compatível ao remunerado pela tarifa, tinha perfil majoritariamente de médio e longo prazo e era plenamente equacionável, considerando os R$ 600 milhões de recebíveis e quase R$ 400 milhões em ativos para alienação”.
Sucateamento da CEB
Com a privatização, mais de 230 servidores saíram da CEB. Até o final do ano, mais dois Planos de Demissão Voluntária (PDV) serão disponibilizados aos funcionários da antiga estatal. Segundo o presidente do Stiu, João Carlos Dias, a tendência é de que haja uma evasão ainda maior de mão de obra qualificada até março de 2022 – quando, pela norma, acaba a estabilidade dos servidores da CEB.
“Houve um sucateamento da CEB para justificar sua privatização. Mesmo caindo mais de 50% na gestão Ibaneis, os investimentos da empresa acumularam nos últimos cinco anos um montante superior a R$ 360 milhões. Seguindo esta tendência de investimento, a CEB prestaria um serviço cada vez melhor para os brasilienses”, afirma Dias.
Altos lucros
A Neoenergia adquiriu os direitos de distribuição por R$ 2,515 bilhões. No primeiro semestre deste ano, no entanto, a empresa triplicou seus lucros, alcançando a marca de R$ 59 milhões.
Esses dividendos irão para os investidores privados e parte significativa deles para a Espanha, país-sede da controladora Iberdrola. Segundo a concessionária, foram investidos mais de R$ 70 milhões em todo o DF. A empresa afirma que aposta em manutenção preventiva e que promoveu uma vistoria em 11 mil quilômetros de redes e automação/inteligência da rede.
É o maior erro privatizar empresas de monopólio natural (onde, naturalmente, é antieconômico dividir os clientes entre várias empresas concorrentes, como é o caso de empresas de distribuição de energia e de saneamento – já imaginou uma cidade cheia de postes de energia ou cheia de canos de esgotos, de várias empresas?).
Quando o número de clientes não depende da excelência do serviço, pois eles não têm outra opção, e a qualidade é totalmente vista como oposta ao lucro, como esperar melhora no atendimento?
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É o maior erro privatizar empresas de monopólio natural (onde, naturalmente, é antieconômico dividir os clientes entre várias empresas concorrentes, como é o caso de empresas de distribuição de energia e de saneamento – já imaginou uma cidade cheia de postes de energia ou cheia de canos de esgotos, de várias empresas?).
Quando o número de clientes não depende da excelência do serviço, pois eles não têm outra opção, e a qualidade é totalmente vista como oposta ao lucro, como esperar melhora no atendimento?
Quando a empresa é pública, se o atendimento é ruim, o cliente responde com comentários nas redes sociais, críticas na mídia, e com a rejeição do governador nas eleições.
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