No PPCUB, a praça não será do povo. Entidades representativas de moradores do DF, que deram entrada com representação no Ministério Público para suspensão da tramitação desse projeto de PPCUB, suspeitam que essas três áreas foram pinçadas pela especulação imobiliária. Fotos de Frederico Flósculo.

Por Chico Sant’Anna

Em “Um Frevo Novo”, Caetano Veloso assegurava que a praça é do povo, referindo-se à Castro Alves, em Salvador. Na Asa Norte, a vingar as alterações que o GDF pretende fazer no Plano Piloto, projetado por Lucio Costa, três praças passarão desaparecerão. Na técnica urbanística, uma praça tem por objetivo propiciar às pessoas não apenas um local para o lazer, mas também para melhorar a qualidade de vida, prevenção de doenças, e também como uma forma de sociabilização. Se tiver jardins e árvores, ainda ajuda no combate à poluição e melhora o clima. A secretaria de Desenvolvimento Urbano – Seduh, contudo, prefere transformar áreas destinadas a espaços públicos em lotes privados para edificações comerciais.

Qualidade de vida

O Plano Piloto foi projetado a partir de quatro escalas: monumental, residencial, gregária e bucólica. A escala bucólica – nos ensinam os especialistas – se constitui exatamente dos gramados, praças, passeios, bosques e jardins da cidade que permeiam e envolvem os diversos setores e os conjuntos de casa e comércios locais. É isso que dá a condição de cidade-parque a Brasília. Nas quadras 700 da Asa Norte, foram previstas sete praças. Nesses 62 anos de Brasília, o GDF vem se omitindo em consolidá-las, o que na prática significaria um passo a mais na conclusão do Plano Piloto. Agora, atravessando de vez o frevo, a intenção revelada no Projeto de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB, é dar fim aos espaços públicos existentes nas EQNs 703/704, 707/708 e 709/710 e transformá-los em lotes para prédios, não se sabe exatamente de quantos andares.

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“Assim, o GDF extingue metade das áreas destinadas a praças da Asa Norte” – salienta o urbanista Frederico Flósculo, que fez questão de ir aos locais que correm risco de loteamento. Segundo ele, em apenas uma das áreas foi edificada praça, “muito furreca”. As outras duas viraram estacionamentos. “É como se eles dissessem, vamos mostrar que praça é uma coisa ruim, que fica feia”, complementa, lembrando que em 2002, quando do concurso da revitalização da avenida W.3, do qual foi vencedor, projetou praças de qualidade. “Eram praças com anfiteatro a céu aberto, espaços idílicos e oníricos, boas para os idosos, crianças, adolescentes, skatistas, músicos, perfomistas.”

Entidades representativas de moradores do DF, que deram entrada com representação no Ministério Público para suspensão da tramitação desse projeto de PPCUB, suspeitam que essas três áreas foram pinçadas pela especulação imobiliária. “Esses três locais já são visados, já foram visitados pelos espertalhões, pelos lobistas. Essa transformação sabota a cidade” – conclui Flósculo.