Texto e foto (pelo Engarrafamentocelular) por
Chico Sant’Anna

O morador de Brasília gasta hoje mais tempo no trânsito do que em 2008.

Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – Ipea constatou que, em 2012, o trabalhador brasiliense gastava, em média, 35 minutos para fazer o percurso casa-trabalho, sendo que 11, em cada 100 trabalhadores, gastavam mais de uma hora no trânsito para cada viagem entre o domicílio e o local do emprego. Ou seja, a cada dia duas horas são perdidas no trânsito da Capital Federal.

Os dados refletem uma precariedade do transporte público e o conseqüente crescimento do número de cidadãos que passaram a possuir o seu próprio carro ou moto. A falta de soluções coletivas levam a saídas individualizadas.

Segundo a pesquisa, nos quatro anos analisados o tempo que o trabalhador brasiliense passou a ficar preso no trânsito aumentou em 6,5% e o total de trabalhadores que levam mais de uma hora para chegar ao emprego aumentou, no mesmo período, em 21,84%. O percentual de brasilienses que fica preso no trânsito por mais de meia hora destoa da média nacional. No Brasil, 66% da população fazem o mesmo percurso em menos de meia hora.

O Distrito Federal, Santa Catarina e Paraná são as unidades da federação que apresentam o maior volume de carros proporcionalmente ao número de residências. Em dezembro de 2012, segundo dados do Detran-DF, Brasília contava com 1.403.788 veículos licenciados.

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Em setembro passado, a frota já tinha aumentado para 1.471.177 carros. Cerca de 68 mil veículos a mais do que no fim do ano passado, uma alta de 6%.  Os dados não contabilizam os veículos dos municípios goianos e mineiros do Entorno que circulam cotidianamente nas vias do Distrito Federal.

Os engarrafamentos em Brasíia sõa tão constantes que,mesmo debaixo de chuva, se tornaram atrativos ao comércio ambulante.
Os engarrafamentos em Brasíia são tão constantes que, mesmo debaixo de chuva, se tornaram atrativos ao comércio ambulante.

Em Brasília, 61,7% dos domicílios possuem carro e 7% possuem motos. O percentual está bem acima da média nacional, 54%. O crescimento de carros entre 2008 e 2012 na Capital Federal foi de 5,20%, fator que deve se acelerar com a política fiscal de isentar o IPVA na aquisição de carros novos. O Ipea questiona a oportunidade de serem adotadas legislações que incentivam o uso de transporte privado e alerta que medidas desta natureza podem, inclusive prejudicar as iniciativas governamentais de melhoria nas condições gerais de mobilidade urbana, tais como as obras do Pac da Mobilidade.

Novos hábitos

Os números revelam, segundo o Ipea, uma alteração nas mudanças do padrão de mobilidade urbana com “uma acelerada taxa de motorização da população”. Em outras palavras, a sociedade, insatisfeita com a qualidade do transporte público coletivo disponibilizado a ela, tem optado por encontrar soluções individuais que cada vez mais entopem as ruas e avenidas. Outro dado que reforça esta leitura, é o baixo índice de utilização do vale-transporte, válido apenas para transportes coletivos: trem, metrô, ônibus.

O resultado de tantos carros e motos nas vias públicas do país é, além dos engarrafamentos que provocam um maior desconforto e uma maior perda de tempo preso no trânsito, o aumento da poluição ambiental e do volume dos acidentes de trânsito. Segundo o estudo do Ipea, de acordo com os dados do Datasus, todos os anos morrem nas vias públicas do Brasil mais de 12 mil motociclistas