
Cartão Postal da cidade, o Bambolê da Dona Sara, como é conhecido pelos mais pioneiros, foi alvo de uma motosserra alucinante, em um ritmo de desflorestamento amazônico.
Teto e fotos por Chico Sant’Anna
Quem passou neste último fim de semana pelo Balão do Aeroporto deve ter imaginado que uma hecatombe acontecera naquele local. Árvores cinqüentenárias estavam todas rachadas, retorcidas, jogadas ao solo, sem dó ou piedade. Mas não se tratava de nenhuma bomba atômica, destas que a Coréia do Norte ameaça lançar. Os estragos foram todos feitos pela Novacap e pela empresa que adapta a ligação viária entre o Aeroporto de Brasília e o início do Plano Piloto.

Cartão Postal da cidade, o Bambolê da Dona Sara, como é conhecido pelos mais pioneiros, foi alvo de uma motosserra alucinante. Em um ritmo de desflorestamento amazônico, espécies do cerrado de meio século de existência, que de tão destruídas não eram passíveis de reconhecimento, tombaram em minutos. Espécimes que testemunharam a presença de desbravadores como Bernardo Sayão, Lúcio Costas e Israel Pinheiro, já não mais estarão presente para fornecer sombras às futuras gerações de brasilienses.
Leia aqui a posição do GDF:
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O próprio Balão do Aeroporto será um trevo deformado em sua essência, com mergulhões aqui, alças açula. Do velho bambolê só deve restar o marco de concreto que segurava a escultura Monumental Espaço Cósmico 81, de Yutaka Toyota. Exposta desde 1980, a obra em forma de cubo foi retirada para realização de reformas no local em meados de 2005 e nunca mais se viu.
A beleza da natureza, os canteiros floridos que ali existiam, está dá lugar a uma série de atalhos viários de asfalto de duvidosos e um túnel traçados para que os carros possam trafegar com maior rapidez. Tudo isso, para atender uma federação de futebol que, a exemplo do que os técnicos chamam de “economia do circo”, realizará uma meia dúzia de jogos na Capital Federal, raspará os cofres públicos e do público, e em seguida, com a mala cheia de dinheiro, irá realizar a mesma façanha em outras paragens.

Dirão alguns: mas a derrubada das árvores se fazia necessária. Ledo engano: todo o trajeto do metrô no canteiro lateral do lateral do Eixão teve as árvores removidas temporariamente e depois replantadas no mesmo local. A Novacap tem a expertise deste trabalho. O problema é que o processo é mais caro e demorado. Este é o preço que se paga pela falta de planejamento e de capacidade laboral da atual gestão do GDF.
Economia de circo
O termo “economia de circo” é uma referência as troupes que rotineiramente chegam a pequenas cidades, pedem apoio público para subir as lonas, recolhem a poupança do público por meio da venda de ingressos, souvenires, pipocas e algodão doce e depois de não ter mais o que sugar naquela localidade, partem para a cidade mais próxima. No município, não fica nenhuma arrecadação de impostos nem participação na receita dos ingressos. Só o lixo a varrer.
Com a FIFA está sendo igual. Brasília está construindo um estádio megalomaníaco, tudo nele é por conta do GDF que, para tanto, deixou de investir em diversas áreas sociais. Mas o GDF não terá nenhuma participação na receita dos jogos, na venda de imagens, nem mesmo nos souvenires a serem vendidos nos arredores do Mané Garrincha que será cercado como um forte apache.

Pior! Até mesmo o título de patrimônio histórico da cidade está constantemente em risco. Ícone desta subserviência aos ditames desta federação, envolta em suspeitas de casos obscuro mundo a fora, é o próprio estádio. Sua identidade tem que ser escondida. O mundo não pode conhecê-lo pelo nome de Mané Garrincha. A homenagem tem que desaparecer, pois impede ganhos com patrocínio e, quem sabe, poderia render direitos autorais aos herdeiros do craque das pernas tortas.
Subserviente, Agnelo Queiroz que, tentando esconder o verdadeiro nome do estádio, já perdeu a primeira batalha com a Câmara Legislativa do DF, agora envia um novo projeto, propondo uma moratória: durante os jogos a denominação Mané Garrincha desaparece. Depois, quando a FIFA for embora, o nome pode voltar. Espero que a CLDF não caia nesta esparrela.
As obras viárias implementadas pelo GDF apostam na sucateada tecnologia de ônibus a diesel – soluções que as experiências de Quito, Buenos Aires e Bogotá – já demonstraram ser de curta validade – e aposentam as duas linhas previstas para o metrô, bem como os diversos circuitos de Veículo Leve sobre Trilhos no Plano Piloto em Taguatinga.
Para tanto, o verde da cidade é sacrificado sem pestanejar. Foi assim na obra da EPTG tocada por José Roberto Arruda, está sendo assim nas obras do Expresso DF, na Epia, entre o Gama e o Plano Piloto, tocadas por Agnelo Queiroz. Entre uma administração e outra não houve nenhuma mudança de postura ambiental. Ambos usaram e usam a motosserra levianamente. O resultado já é perceptível na EPTG. De Estrada Parque – como o próprio nome a identifica – a via virou um maciço de asfalto e concreto, impermeabilizando o solo, sem deixar áreas para a infiltração das águas das chuvas, mas gerando imensas áreas alagadas.
É sintomático o silêncio de nossas autoridades ambientais distritais, bem como dos parlamentares que se dizem ligados ao verde. Nada se ouve, nenhum protesto, nenhuma ação efetiva. Aos poucos, o asfalto avança sobre as sucupiras, quaresmeiras, aleluias. As vias ficam sem suas sombras e ao brasiliense resta mais poluição e menos qualidade de vida.
Pois é, não sei se a nossa moderna engenharia não poderia ter dado uma outra solução para o local. Apesar de ser um ponto turístico quase impossível de ser visitado (a pé) por falta de estacionamentos e calçadas, era o cartão de visita de Brasília para quem chegava em Brasília pelo aeroporto ou eventualmente de carro (dependendo do caminho que fizesse).
Duvido que em Berlim ou em Nova Iorque uma intervenção dessa passasse em branco pela mídia e pelos movimentos ecológicos.
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Fernando, concordo com você. Creio que na Alemanha ou nos Estados Unidos uma ação deste porte derrubaria primeiro ministro ou prefeito.
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Inacreditável que isso aconteça e inaceitável!!! Tô Chocada, árvores lindas e agora nem tocos delas restarão. Nossas autoridades ambientais fazem vista grossa!! Como fazer queixa agora? no máximo, replantio. Poxxa vida, podiam ter feito transplante delas, sei que sou leiga no assuntoo, mas já vi empreiteiras nos EUA transferindo árvores gigantescas de lugares. Que dó!!!
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Não podemos deixar de progredir, de melhorar a qualidade de vida na capital pot causa de árvores…Principalmente as sibipirunas que estão sendo cortadas e que foram plantadas, não são nativas…
Quando se recusa o plantio de mais de 8 mil mudas de árvores nativas do cerrado, fica claro que o que se pretende é a paralisação das obras…para logo em seguida, usar o fato politicamente…
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Chocante!!! Inaceitável!!! Criminoso!!! Indesculpável!!!
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Chico, tenho batido muito nessa tecla e vou insistir, porque a imprensa da cidade faz vista grossa: servidores graduados da Novacap criaram uma ONG de fachada para receber madeira doada e em seguida vendê-la. Há milhões de reais nessa história. No final do ano passado foi noticiada uma investigação pela polícia civil, mas o Agnelo revirou a diretoria da Polícia, trocou cargos aqui e ali, para impedir essa e outras investigações. A última esperança é o Ministério Público, que tem que fazer uma investigação cuidadosa nessas ações da Novacap. As obras da Copa pioram as coisas, mas quem observa a cidade sabe que a Novacap tem uma tremenda fome de madeira, promovendo cortes, podas exageradas, etc. Isso não pode continuar assim.
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Primeiramente, há de se rever conceitos urbanos, uma visão mais voltadas a evitar projetos que afrontem os espaços bucólicos históricos, a conscientização de projetistas evitando intervenções maléficas a natureza, seja em vegetação urbana como em áreas de conservação permanentes. Acredito que, em tese, também ha formas de retirar aquelas espécies; ecologicamente correta e reimplantá-las dentro de um padrão pasagístico adequado, sem a monstruosidade e agressividade que dói a alma do cidadão que passa por ali. Lamentável a forma agressiva que foi…
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Ele foi eleito pelo voto popular. Estamos numa democracia. Votamos errado.
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Paulo
Na verdade vocês votaram errado. Como o Psol já tinha alertado, a dobradinha Agnelo Filippelli não daria certo, como não deu. Agora, o bom é se tivéssemos o voto revogatório, como existe na Califórnia e na Venezuela. Na metade do mandato, a população se assim o desejar, poderia revogar o restante do mandato. Foi assim que Arnold Schwarzenegger virou governador na Califórnia.
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Hecatombe ambiental provocada por hecatombe política.
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CHOCANTE…..É UMA FALTA DE RESPEITO PARA COM O MEIO AMBIENTE. mAS AFINAL COMO LI NUMA REPORTAGEM: OBRA SUPER FATURADA PARA UMA CIDADE QUE NEM VAI TER MUITA IMPORTANCIA NA COPA….MAS O DINDIM ESTÁ SENDO SUPER GASTO.
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Vira e mexe alguém ataca pixadores anônimos enquanto vândalo graduados destroem ambientes. Pessoas merecem respeito. Autoridades além de ridículas são nocivas e exigem ser temidas e ainda ameaçam com artigos do Código Penal por desacato a autoridade. Quemerda ! Que bosta !!
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Passei por lá hoje pela manhã e é uma cena grotesca, dantesca, de cortar o coração. Não apenas pelo valor bucólico e decorativo que tinham as árvores ( como o fernando disse, um cartão postal de boas vindas à cidade) mas tambem pelo que mostram de desrespeito à vida. Um dias essas árvores foram plantadas ali, e demoraram dezenas de anos para crescer. É surreal que tamanha intervenção tenha sido autorizada pelo IBRAM ( gostaria de ver essa licença); se a população tivesse sido consultada, não creio que essa “solução” fosse aceita. Mas, como no caso do Noroeste, repete-se a lógica: empreendimentos milionários têm mais valor que a natureza. Parabéns pela estupidez, humanidade!
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Simone de Lima, segundo esse link (http://www.jornaldebrasilia.com.br/site/noticia.php?ibran-multa-der-por-arrancar-arvores-do-balao-do-aeroporto-sem-autorizacao&id=465317) o IBRAM não deu autorização e ainda multou o DER.
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Moro perto do balão, e estou chocada com tudo o q tem sido feito por aqui. Cada dia q passa detesto mais esse governo e essa Copa. Pra mim já é um absurdo a total destruição do Bambolê da Dona Sara, mas como não mandamos em nada mesmo e a obra vai mesmo ser feita, custava ter esperado a Copa das Confederações? Pelo menos os q aqui chegassem veriam uma imagem bonita, florida qdo entrassem na cidade, mas agora vão ver um canteiro de obras, um VERDADEIRO CAOS no transito. Uma vergonha. E ainda tem quem sustente q isso é progresso. Onde????
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Com essa obra vai melhorar o transito de quem sofre com tanto engarrafamento nesse local.
Tendo em vista que serão plantadas outras arvores não vejo problemas e derrubar as que estão no caminho. Isso só incomoda quem não sofre com o trânsito no mesmo.
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André Silva
Passo cotidiianamente no extinto Balão do Aeroporto e sei das dificuldades. O problema é que esta obra implica na construção de uma via dentro do que era o Balão, apenas para agradar a Fifa e suas comitivas que virão pra Copa. Quem vem do Park Way, Gama, Santa Maria e Entorno, em nada será neficiado por ela.
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