Grupos e movimentos que até outro dia estavam todas sob a mesma bandeira de Bolsonaro agora se digladiam nas redes sociais. O Movimento Brasil Livre (MBL), de Kim Kataguiri, criou cards para dizer que a deputada estava sendo investigada por suposta participação em um esquema criminoso.

A investigação deflagrada pelo STF, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, busca identificar quem são os articuladores, financiadores e apoiadores do esquema montado para propagar ataques contra políticos e instituições.

Por Chico Sant’Anna

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) é uma dos parlamentares federais alvos da operação da Polícia Federal, deflagrada nesta quarta-feira (27/5), que apura suposto esquema de financiamento e difusão de fake news e ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Com presença marcante nas redes sociais, a deputada federal ficou, recentemente, na terceira posição de quem mais distribui desinformação sobre o novo coronavírus, de acordo com um levantamento publicado pelo site “Radar Aos Fatos”. As publicações enganosas da parlamentar do Distrito Federal chegaram a 20% do total de volume avaliado. Evandro de Araújo Paula, secretário parlamentar lotado no gabinete de Bia Kicis, foi apontado por reportagem da Folha de São Paulo, como um dos organizadores do chamado “Acampamento dos 300”, na Esplanada dos Ministérios, que realizou manifestações contra o Legislativo e o Judiciário.

A investigação deflagrada pelo STF, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, busca identificar quem são os articuladores, financiadores e apoiadores do esquema montado para propagar ataques contra políticos e instituições. Sigilos bancários de empresários estão sendo quebrados e perfis nas redes sociais dos envolvidos estão congelados, impedidos de ter mensagens deletadas.

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O ministro Alexandre Moraes quer colher depoimentos de parlamentares federais e estaduais da base bolsonarista. Além de Bia Kicis, a operação também foca Carla Zambelli (PSL-SP), Daniel Lúcio da Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junior do Amaral (PSL-MG), Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL-SP), além dos deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP), conhecido pelo apelido de “Carteiro Reaça”. O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, o dono das lojas Havan, Luciano Hang, e os blogueiros Allan dos Santos e Sara Winter também são alvos da operação da PF. Ao contrário dos demais, os parlamentares não são alvo de mandados de busca e apreensão, mas o ministro Alexandre de Moraes determinou que sejam ouvidos em dez dias e que suas postagens em redes sociais sejam preservadas. Nada pode ser deletado.

Deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) veiculou uma coletânea de fotos, montadas em uma só imagem, chamando a operação do STF de “Desmonte das fakenews”.

Base rachada

Grupos e movimentos que até outro dia estavam todas sob a mesma bandeira de Bolsonaro agora se digladiam nas redes sociais. A também deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) veiculou uma coletânea de fotos, montadas em uma só imagem, chamando a operação do STF de “Desmonte das fakenews”. Senador Major Olímpio, ex-aliado de Jair Bolsonaro, comemorou a operação de hoje da Polícia Federal. “Uma grande oportunidade para que se esclareça tudo sobre essa quadrilha digital que vem atentando e cometendo crimes contra a honra das pessoas e assassinato de reputações”.

O Movimento Brasil Livre (MBL), de Kim Kataguiri, criou cards para dizer que a deputada estava sendo investigada por suposta participação em um esquema criminoso. De pronto ela respondeu que o MBL estava em uma “luta insana” para acusa-la de propaladora de fakenews e alertou o movimento poderia ser o próximo a ser investigado.

Nas redes sociais, simpatizantes do bolsonarismo tentam classificar a ação do STF de censura e autoritarismo. Três hashtag estão sendo usadas: #ditaduraSTF, #CensuraDoSTF e #STFVergonhaNacional para tentar mobilizar os internautas contra a ação do Supremo. A segunda apresentava, às 17h15, do dia 27, 170 mil twitters e a terceira 230 mil. Já a primeira, não despontava entre as 30 hashtag mais citadas na rede social.