Estação Ecológica Águas Emendadas.Foto de Evando F. Lopes
Estação Ecológica Águas Emendadas. Foto de Evando F. Lopes

Por Chico Sant’Anna

No dia 22 de março comemora-se o Dia Mundial da Água.

Uma importante data para refletirmos sobre este importante recurso natural.
Os brasilienses acompanham os dramas que paulistas, cariocas e capixabas vivenciam com racionamento de consumo d’água. Mas Brasília também sofreu redução na renovação de seus reservatórios. Sofrimento decorrente do regime das chuvas, mas também do processo de urbanização cada vez mais agressivo. Agora mesmo, a imprensa noticia o surgimento de um núcleo habitacional para 70 mil habitantes, a Rodrigolândia, próximo ao Recanto das Emas. A área escolhida é o Núcleo Rural Vargem da Benção. O local deve ser mesmo abençoado, pois tem uma vegetação linda e é riquíssimo em nascentes, que poderão desaparecer, como desapareceram as que existiam em Águas Claras e em Vicente Pires.

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Águas Claras: espigões de até 30 andares ocuparam áreas antes denascentes.Fotode ChicoSant'Anna
Águas Claras: espigões de até 30 andares ocupam áreas por onde antes corriam água das nascentes que inspiraram o nome da localidade. Foto de Chico Sant’Anna

Para preservar a água, é preciso preservar a vegetação do cerrado que há milhões de anos abriga as principais nascentes do Brasil.

A expansão urbana e a consequente impermeabilização do solo do Distrito Federal traz conseqüências não só aos moradores da Capital Federal, mas de todo o Brasil. Você sabia que o Rio São Francisco começa no cerrado? O Rio Paraguai também.

Até a Hidrelétrica de Itaipu não existiria sem as nascentes do cerrado.

Um exemplo importante é a Estação ecológica das Águas Emendadas,localizada no planalto central brasileiro, no extremo nordeste do Distrito Federal, na região administrativa de Planaltina. Ela tem esse nome por se tratar de um fenômeno hidrográfico de dispersão de águas, fluindo a partir de um mesmo ponto para lados opostos da América do Sul. Suas águas ajudam a formar tanto a Bacia do Tocantins-Araguaia, quanto  a Bacia Platina. Do cerrado da Capital Federal partem águas que vão desembocar na Baía do Marajó, no Norte do Brasil, e, ao Sul da América do Sul, no estuário do Prata.

A Lagoa Bonita é a maior lagoa natural  do DF e faz parte da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Foto de Evando Ferreira.
A Lagoa Bonita é a maior lagoa natural do DF e faz parte da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Foto de Evando F. Lopes.

Da singela Lagoa Bonita, na Estação Ecológica de Águas Emendadas, no Distrito Federal, a água vai se juntar a pequenos córregos e formar o Rio Paraná,de um lado, e o Rio Araguaia, de outro. No Brasil, a região do Cerrado se destaca do ponto de vista hidrológico e ambiental. Oito das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras recebem contribuição hídrica deste bioma e algumas delas do cerrado localizado no Distrito Federal.

Mas se o cerrado é importante para ajudar a regular o clima, qual a consequência da destruição dessa vegetação nativa? “O solo seca, a capacidade de armazenar água diminui e a quantidade de água disponível tanto para a região do cerrado quanto para o restante do Brasil vai diminuir”, registra Jorge Werneck Lima, pesquisador em hidrologia da Embrapa Cerrados.

Das 300 cabeceiras de córregos e rios do DF cadastradas pelo Ibram, apenas 162 são monitoradas. Dessas, só 47 estão intactas e 51 sofrem graves ameaças ambientais, como desmatamento, lixo e esgoto.

O Instituto Brasília Ambiental – Ibram estima que existam mais de mil nascentes espalhadas pelo DF, mas não sabe sequer a localização de 700 delas. Apenas 300 constam no cadastro do instituto e só 162 são constantemente monitoradas porque participam do programa Adote uma nascente. Mesmo entre as adotadas, há aquelas em situação precária. De acordo com o Ibram, somente 47 nascentes – 29% do total – estão praticamente intactas, ou seja, têm mais de 70% da cobertura vegetal que as protege.

Seminário

Como objetivo de melhor conhecer a realidade das nascentes existentes no Distrito Federal, acontece, dia 19 de março, a partir das 19 horas, na sede do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal,  o seminário Águas Acima. A iniciativa, do ativo ambientalista Eugenio Giovenardi -um dos palestrantes -, pretende comover e comprometer os participantes na preservação das nascentes. Fazem parte da relação dos palestrantes os geógrafos Aldo Paviani, Rafael Sanzio, o geólogo José Elói Guimarães Campos e o arquiteto Frederico Flósculo.