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As manchas em vermelho indicam as áreas verdes que o GDF pretende transformar em lotes comerciais. As marcas em amarelo, são os novos lotes residenciais. Nas setas em vermelho a imagem atual das áreas que passariam a abrigar comércio.

Além de amplos espaços para a instalação de comércio local e de um Polo Multifuncional, a proposta prevê a criação de cerca de sessenta novos terrenos residenciais de 20 mil metros, cada um – passíveis de fracionamento em até oito lotes, totalizando quase 500 novas residências.

Por Chico Sant’Anna

 

O Park Way, idealizado por Lúcio Costa como um cinturão verde para o Plano Piloto e garantidor das nascentes que alimentam o Ribeirão do Gama e do córrego Cabeça de Veado, bacias que respondem por um terço das águas do Lago Paranoá, corre o risco de ser adensado e perder grandes áreas de vegetação original do Cerrado. O temor de muitos moradores é que o bairro venha ganhar contornos urbanos semelhantes ao de Vicente Pires.

Simultaneamente ao debate sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo – Luos, o GDF deu início à avaliação popular das novas Diretrizes Urbanísticas do Park Way. A proposta prevê a criação de cerca de sessenta novos lotes residenciais de 20 mil metros cada um – passíveis de fracionamento em até oito residências – e largos corredores para comércio.

sun-park-city-2Todas estas mudanças urbanísticas se somariam a Cidade Aeroportuária, onde a InfraAmérica deseja construir o Sun Park City Center. Embora o projeto venha ocupar terras do Park Way, ao que parece não está sujeito às normas urbanísticas nem do Park Way, que não permite edifícios, nem do Distrito Federal, mas sim à regras federais.

Para mais detalhes sobre a LUOS, leia:

Na primeira audiência pública, a proposta provocou rejeição de muitos moradores e a simpatia por parte de empresários que querem atuar no local.

Com uma área de 31,598 Km², o bairro, responde por 68% da área da Apa Gama-Cabeça do Veado. O Park Way nasceu com a denominação Loteamento Mansões Suburbanas Gama. Eram apenas 300 lotes de 20 mil metros e a proposta visava angariar recursos financeiros para a Novacap. Posteriormente, quando registrado em cartório, em 1961, já com a denominação Setor de Mansões Suburbanas Park Way, foram previstos 1.188 lotes, cada um com dois hectares, podendo contar com até três residências, mas sem direito à fracionamento. Pelo decreto nº 18.910, de 15/12/97, o então governador Cristovam Buarque, permitiu o parcelamento de cada lote em até oito unidades autônomas, com área mínima de 1.875 m². A medida triplicou o potencial de residências no bairro: de 3.564 para 9.504.

Segundo o estudo Subsídios ao zoneamento da APA Gama-Cabeça de Veado e Reserva da Biosfera do Cerrado: caracterização e conflitos socioambientais, editado, em 2003, pela Unesco; esse crescimento foi responsável pelo soterramento de várias nascentes e drenagem do solo. “Os condomínios ao longo dos cursos d’água e nascentes, em médio prazo, causam destruição das áreas de preservação permanente, tanto por ações voluntárias como involuntárias dos seus ocupantes” – salienta o texto.

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O Park Way está inserido na APA Gama-Cabeça do Veado que abriga nascentes responsáveis pela terça parte d’água que abastece o Lago Paranoá. Foto José Joffre

Aporte superior a R$ 300 milhões.

Além da questão ambiental e de garantia d’água, o Park Way é considerado, urbanisticamente falando, o envoltório do Plano Piloto: elemento visual de proteção e articulação da paisagem da área tombada de Brasília. Os novos sessenta lotes residenciais idealizados pelo governo Rollemberg representarão, caso sejam fracionados, em mais 480 residências. Esses novos lotes estão majoritariamente localizados nas pontas de conjuntos, a forma como cada quadra é dividida. Eles foram criados como área pública e verde para assegurar manchas de vegetação natural e que funcionassem para diminuir o grau de impermeabilização do solo. A venda dessas passagens se assemelha à venda dos lotes em becos da cidade do Gama, só que em proporções maiores. Para a Terracap, contudo, a comercialização desses 60 lotes, a preços atuais de mercado, pode representar um aporte de receita superior a R$ 300 milhões.

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Publicado originalmente na coluna Brasília, por Chico Sant’Anna, do semanário Brasília Capital.

Comércio polêmico

A segunda novidade na proposta de Diretrizes Urbanísticas do Park Way é a introdução de áreas para comércio. Como dito, antes, quando criado, o bairro era exclusivamente residencial. Comércio só na Vargem Bonita e no Núcleo Bandeirante.

O debate sobre a introdução de comércio no Park Way é tão antigo quanto polêmico, principalmente nas redes sociais. Projetos urbanísticos passados chegaram a prever cinco áreas comerciais então denominadas supermercados. Elas não existem mais na projeto urbano, foram retiradas no governo Arruda, quando da votação do PDOT.

Na nova proposta, cujo mapa de zoneamento proposto é a imagem no alto da página, as manchas em vermelho indicam as áreas verdes que o GDF pretende transformar em lotes comerciais. Nas linhas em vermelho a imagem atual das áreas que passariam a abrigar comércio. As marcas em amarelo, são os novos lotes residenciais.

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O Park Way vem sendo local para a reintrodução de animais silvestres no cerrado da Capital.

Muitos moradores são radicalmente contra o comércio. Entendem que o bairro perderá sua personalidade e passará a vivenciar problemas comuns a outras áreas urbanas do DF, como o trânsito mais intenso, violência, sujeira, insegurança, poluição sonora e ambiental. Lembram que o Park Way não tem coleta e tratamento de esgoto, a coleta de lixo é precária e água e energia já operam no limite.
A defesa desta coletividade é por um bairro ecológico, capaz de preservar os mananciais que beneficiam todo o Distrito Federal. Ressaltam ainda que o Park Way vem sendo local para a reintrodução de animais silvestres no cerrado da Capital.

Para mais detalhes, leia:

Ilhas e galerias

Os que defendem a chegada das lojas falam em pequenas ilhas de comércio de vizinhança tipo padaria e farmácias. O certo, contido, é que qualquer proposta de comércio implica em desmatamento. Atualmente, não existe nenhuma área com previsão para tal fim. Onde não há casa, existe cerrado. Chega a ser contraditório ver de um lado o GDF fazendo um enorme esforço de reflorestamento do Park Way e de outro preparando os tratores para desmatar áreas de vegetação consolidada.

Leia também:

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Para evitar esse desmatamento, uma alternativa seriam galerias comerciais suspensas, passando sobre a EPIA/BR-040, nos moldes existentes de rodovias paulistas e da Europa

Para evitar tal desmatamento, uma alternativa seriam galerias comerciais suspensas, passando sobre a EPIA/BR-040, nos moldes existentes nas rodovias paulistas e da Europa.

A proposta do GDF não usa a técnica de ilhas (vide a imagem no início desse artigo), mas sim de grandes manchas e corredores comerciais.

O primeiro corredor seria próximo ao Aeroporto de Brasília, por de trás da quadra 14. Um polo Multifuncional – espécie de Setor Comercial Park Way -, também é proposto. A idéia não é nova, mas sua localização tem se alterado, governo a governo.

No governo Agnelo, o Polo Multifuncional foi inicialmente previsto para a intercessão da EPIA com a EPDB. Seria uma área circular que envolveria parte da Vila Cahui, em especial no campo de futebol utilizado no passado pelo Guará Esporte Clube, popularmente denomiada de Colina do Lobo.

polo-multifuncional-3-vista-panoramica-brtAgora indicam um longo corredor em forma de asa, margeando a antiga ferrovia da RFFSA. Inicia na quadra 6 do Park Way e termina nas imediações das quadras 17 e 26. Uma passagem subterrânea seria erguida. Ao centro um novo terminal do BRT. Pelas palavras de técnicos do GDF, o atual, próximo a Floricultura do Núcleo Bandeirante, distante a pouco mais de 500 metros, está mal localizado.

Outras duas manchas de terras comerciais são: a extensa área verde delimitada pelas quadras 9, 10 e 11; e a área verde entre as quadras 11 e 13. Na extremidade Sul da quadra 26, também foi projetado comércio. Por fim, as duas margens da via que liga a EPIA à Granja do Ipê, onde funciona a Universidade da Paz, também seriam comercializadas para instalação de lojas.

Não se falou ainda em que tipo de empresas poderão se instalar. Especialistas dizem que o Park Way sozinho não demanda tanto estabelecimento comercial e que para que haja sucesso no empreendimento, ele teria que ser capaz de atrair consumidores de outras localidades do Distrito Federal.

O certo é que o debate recém começou. Novas rodadas devem ocorrer antes do Carnaval. Ao lado da definição das diretrizes Urbanísticas do Park Way, tem a da LUOS que define se um determinado imóvel pode ter comércio, apenas residencia ou de uso misto. Os embates entre moradores GDF e empresários prometem esquentar este ano que começa. E no final, tudo vai parar na Câmara Distrital.

Como se vê, a história se repete: Agnelo se viu obrigado a retirar da CLDF os projetos de LUOS e de PPCUB para evitar desgastes ainda maiores nas eleições de 2014. Rollemberg fará o mesmo?
Feliz 2017.